quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Eu

Eu... eu sou areia que escorre pelos dedos... sou de todos mas de ninguém. Nem de mim mesma. Sou uma mera alma num corpo alugado por (espero que muitos), anos. Sei que nem sempre o trato bem, que o deformo pelo que como e bebo, que o envelheço, muitas vezes antes do tempo. Eu, sou quem admira o mundo com o olhar de um bebé que explora tudo pela primeira vez. Ânsia de viver o que quero viver e ninguém me deixa. Ânsia de viver os meus sonhos e transformá-los em realidade palpável. Eu sou quem não se vê. O que quase ninguém entende. Eu sou eu. Eu sou quem sou num corpo que queria ser.
Observo quem me rodeia, os caminhos que escolhem, as vidas que muitas vezes aconteceram por acaso, sem vontades próprias, sem grandes sonhos realizados, ou pequenos consolos obtidos. Sou quem não critica as vidas sofridas mas abomina as desperdiçadas. Por isso mesmo me abomino muitas vezes. Por não me permitir viver. Apenas sonhar.
Eu sou a areia que alguém deixou cair ao chão. Nela marcaram as suas pegadas como se fosse em cimento. São elas que me seguram à vida. Umas, prendem-me aqui. Outras fazem-me pensar demasiadamente, desejando ter as minhas próprias passadas. Sair daqui como um dia alguém saiu. Partir de um ponto e percorrer vários. Eu sou do tamanho da areia. Demasiado pequena mas parte de uma imensidão de grãos. Eu sou aquela que um dia, talvez arrastada pela força do vento, vai voar para parte incerta. Nela levarei a certeza do que quero. E aí, serei livre.

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