sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Meia meia.

Não interessa como fui parar àquele sítio. Nem como se chamava, o que fiz ou deixei de fazer… Mas interessa saber que numa realidade diferente da que estamos habituados, encontrei aquele elo de ligação, ao que nos surge sempre no dia a dia… o elo que desprezo porque me corta a ilusão, desliga-me das minhas fantasias… tira-me o prazer do desconhecido… Sentada numa mesa de estanho, estava uma mulher, banal como tantas outras, dando goles no seu chá de ervas com nomes difíceis de pronunciar, num programa fácil de observar…Não compreendo… desculpem mas não compreendo as mulheres que se sentam num bar, de saia versão cinto e de meias de liga a espreitar à vontade debaixo da saia, olhando em redor como o rei da selva quando mira o seu território… aquele bar era todo dela, por isso é que estava ali sozinha, cobiçando homens que se faziam acompanhados por mulheres menos fáceis, menos simples e muito menos desesperadas… Ou pelo menos, que sabiam disfarçar melhor… O que procurava ela? Quem? A meia… fácil… a meia procurava sair dali… do bar, da perna, largada nalgum quarto que a mulher já nem imaginava sequer, por tantas tentativas e sonhos destruídos, fantasias que nunca ninguém concretizou e que se resumiam a umas rapidinhas no carro velho e sujo do primeiro que lhe pergunta “posso sentar-me?”… A meia, por assim dizer, procurava sair, ser feita em “foguetes” pelas unhas da paixão e não pelas unhas escarlate da manicure à tuga… a mulher? A mulher procurava algo… qualquer coisa… um contacto, um olhar, um carinho, alguém que lhe calçasse um sapato naquela meia intocada, mas estava ali… escondendo os seus desejos, cansada por os adiar e esperar… “até quando?”- Pensava ela… sem nunca chegar a uma resposta… no entretanto, tomava um chá… versão dois em um para a cura do seu mal (ou pecado?), ou conhecia alguém, ou ia para casa sozinha, mas dormia um sono tranquilo, quem sabe com sonhos picantes do mentol? Quanto à meia solitária… a mesma gaveta a esperaria…ou então, o caixote do lixo… assim… como algo especial mas que a mulher tornou descartável, básico, simples, oferecido em troca de nada ou mote de olhares de gozo de quem a viu ali sozinha, no engate do príncipe invisível que tarda em chegar.



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