O metro vai cheio a esta hora. Cheio de gente, cheio de sacos e malas que entopem o caminho, cheio de sujidade dos que fazem do chão, caixote de lixo, cheio de pessoas que não interessam a ninguém, que cedem lugares aos idosos só porque outros olhares os recriminam...Alheia a isto, foco a minha atenção na música que grita aos meus ouvidos, pede clemência e novas vistas. Não! Nada me vai deprimir. Não mais do que já é costume. Podem soltar os cães, berrarem, espernearem, baterem, nada é mais forte que o meu desejo de me abstrair desta realidade. Caminho finalmente, pelas ruas tantas vezes massacradas pelos meus pés... e pelos demais... umas vezes a correr, outras a andar, a saltar ou simplesmente parada a contemplar a beleza (agora menor), deste sítio.
A um canto, sentam-se as espanholas que de malas aviadas, estão de partida, não sem antes dar uma lição de boa educação ao empregado de café, mostrando-lhe que ser simpático não dói nada e é à borla. E ele finge. Todo ele é fingimento. Finge que gosta do que faz, finge que é simpático e por fim, finge o sorriso... tudo nele soa a falso, cheira mal e transforma-o numa má pessoa.
Ao lado das espanholas, passam as mães adolescentes que engravidaram na primeira vez que acreditaram num conto de fadas do arco da velha... não tiveram coragem de abortar e hoje, são as mesmas adolescentes revoltadas num corpo deformado, arrastando as crianças pela mão, enquanto lhes berram por não quererem um chupa-chupa... E eu na mesma... não há nada... nada que me deprima mais do que a triste realidade.. música.. preciso de música para evitar ouvir o que dizem num português rasca e estranho de quem nem a quarta classe parece ter.
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