Não me perguntes porquê. Tu sabes. Sempre que chega este mês lembro-me ainda mais de ti. Dos teus cabelos alourados a caírem-te nos olhos e tu a bufar-lhes, em jeito de pente. Lembro-me da tua bondade, vontade de ir à luta, das tuas iras, frustrações, planos para o futuro e preocupações com os demais, sonhos, amores e desamores, paixão e jeito para a escrita.
Eras um miúdo. Correcção, éramos uns miúdos, quando nos conhecemos. E como todos os miúdos dessa altura, vivíamos a pensar que o amanhã não existia e o hoje tinha de ser passado a rir e a fazer palhaçadas. Hoje, penso em ti e arrependo-me de ter estado ausente tanto tempo... tenho saudades de tudo em ti, das viagens na tua mota até minha casa repleta de adrenalina, dos "cavalos" sacados comigo atrás, agarrada a ti como quem agarra a vida, os meus joelhos a rasarem as rodas dos autocarros, as conversas que tínhamos, o carinho demonstrado, os segredos partilhados, aquelas vezes em que aparecias à minha porta a chorar e a pedir-me que te abraçasse... Nessa altura dei importância, mas não tanta como a falta que sinto agora.
Tudo mudou, sabes? O mundo continua aqui, mas não da forma que o conhecemos em tempos, as caras mudaram, as personalidades vincaram-se e outros partiram das nossas vidas. E nada volta atrás. Não vou mais ter 20 anos, não vou voltar a ter mais conversas sentados no passeio nem voltas de mota alucinados pelas luzes da cidade. No lugar desses momentos, esperam-me outros... diferentes, mas nunca os mesmos.
E ainda hoje não entendo o porquê... de teres decidido que tinha chegado a altura de parar... deixar os sonhos, as pessoas, as risadas e conversas, largares a mão e abdicares de toda uma vida... como se fosses um velho que desiste de sobreviver num corpo cansado.... Não compreendo, mas nem essa compreensão mudaria ou preencheria o vazio que deixaste... não te trás de volta.
Junto a ti deixei uma flor que já secou, nela foi um beijo de saudade que nunca esmorecerá. Até sempre D. R.I.P.
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