Naquele café onde vou quase todos os dias, sempre assisto a uma discussão entre os donos... são um casal como tantos outros, ela na menopausa, ele na andro e sem entendimento possível, a menos que um saiba engolir o orgulho e calar-se.
Sempre que lá vou fico com a impressão que saí da cidade e estou num daqueles cafés familiares, comuns nas aldeias, pertencentes a um casal modesto longe das manias das cidades, com as unhas sujas da lavoura e nos quais os fregueses são parte de uma grande "família"... Comentando a vida dos outros e criticando as jovens das aldeias que se apaixonam pelas modas das grandes cidades...
Aqui as discussões acontecem por tudo e por nada, mas a maioria das vezes, todas têm uma causa comum... os ciúmes... A dona do café, que em tempos devia ser a rapariga mais bonita lá da terra, não reparou que os anos passaram e ela envelheceu... pôs de parte o capricho e vaidade e na realidade parece bem mais velha do que é... o homem, não menos desleixado, pensa que voltou à juventude e que as meninas bonitas da cidade se encantam com os seus belos olhos... Assim se abrem as portas às discussões... sem princípio meio nem fim... discutem porque sim e porque não e ultimamente andavam tão mal, que deixei de lá ir...
Hoje, por força maior, tive de lá ir... não queria acreditar no que via... as discussões pararam, mas em vez delas paira um silêncio aterrador... ela retomou a vaidade, mas com o passar dos anos, esqueceu-se que há coisas que já não se usam... ele, deixou de olhar para as meninas e tornou-se mais antipático... e assim naquele café familiar, a dona que me trás o café num sorriso rasgado vermelho e olhos lilás, com o pó de arroz a disfarçar muito mal as rugas que se acumularam com o peso das discussões, desdenha o homem de postura curvada e submissa, a quem em tempos prometeu amar para todo o sempre e que hoje apenas parece servir para me fazer o troco... Muitos dos habituais fregueses desapareceram... uns por falta de assunto, outros porque não se adaptaram à "renovação" dos aldeões em citadinos e eu, sinceramente não sei o que seria melhor... se o antigamente se o presente... Mas que aquilo me deprimiu bastante, lá isso deprimiu... e não penso voltar lá tão cedo... Eles são, o exemplo que nunca quero alcançar.
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