Perdido o comboio no meio da correria madrugadora (que apenas serve para me atrasar ainda mais e fazer lembrar do que ficou esquecido em casa), apanhamos a camioneta após várias horas a correr as ruas ensonadas do Porto... sobe rua, desce atalho e começou finalmente a nossa viagem... A camioneta vai meio vazia e os que viajam dormem o que não dormiram de noite ou vão simplesmente inertes, ausentes de uma realidade palpável... Phones nos ouvidos e eu admiro a paisagem... não estou a dormir mas estou bem longe dali, perdida em pensamentos que surgem pela melodia da música que ecoa nos ouvidos... Olho para fora... auto-estrada vazia... curvas, mais curvas e, surpresa, uma nova curva que apenas serve para ir dar ao mesmo sítio, uma faixa de distância apenas... Penso estranhamente no meu irmão... nos tempos em que andava de mota com ele... algures pelos pinhais de uma cidade gravada no meu coração, anos antes desta mesma viagem... Como dava tudo para voltar a sentir aquela mesma sensação... de dar todas aquelas curvas na traseira da mota dele.. Sentir novamente o corpo a fugir de nós e literalmente "deitar-me" numa curva mais apertada... Mas não estou na traseira, estou algures sentada num banco de camioneta, onde tantos outros sentaram antes de mim... Não há gozo. Não há mota. Não há sentir as curvas. Apenas uma sensação de enjoo e irritação quando sou despertada por um telemóvel a tocar. Não o meu e sinceramente, devia ser proíbido. Não há direito em "acordar" uma pessoa daquele sonho imaginado!
Chego ao meu destino ao fim de duas horas e meia (quando de carro é metade), e inspiro o ar puro das montanhas que me abraçam... estou a 130km de casa e esse sentimento de liberdade só foi interrompido quando encontro várias pessoas que conheço... houve alguém que teve a mesma idéia do que eu. Não foi mau encontrar, foi mau sentir que não estava longe demais!
Depois das voltas de reconhecimento à cidade onde tinha estado anos antes, dei por mim num novo momento de reflexão... sentada numa esplanada, sozinha, enquanto deixava o meu ser, ser deslumbrado pela beleza envolvente... E é isto que procuro. É isto que anseio encontrar quando saio da cidade que amo mas me mói... ser uma desconhecida numa cidade onde me sinto em casa. Em paz. Onde todos me abraçam sem sequer saberem quem sou. Sem segundas intenções nem pinga de maldade! Naquele momento era só eu e a natureza, iluminados pelas luzes amarelas dos lampiões e ao fundo o rio limitado pelas imensas árvores despidas de preconceitos (de folhas) em noites de inverno... Algures no ar, ouvem-se os sinos da igreja e desperto... - "É hora de ir jantar"...
Volto hoje... não pude evitar ser contagiada pela nostalgia da separação. Não gosto de despedidas... nem de pessoas e muito menos de sítios... Chego aqui e ZÁS! Peso em cima, ar poluído e novamente aquela sensação constante de quem voltou ao sítio errado apenas por obrigação... ódio! Raiva! Quero partir! Não quero voltar! Quero ir atrás de mais momentos assim, a sítios onde fomos felizes!
3 comentários:
...a nossa terra näo tém fronteiras, assim komo a força do pensamento e do sentimento...säo forças ke movém "montanhas".
...épà é um bokado pesante deslokar as montanhas sòzinho...äie "enkosta" te a mim...isto dis-me kualker koisa???
...sinte-se ou melhor, ke solidäo neste lugar...
falta kà alguém. (?!)
LOL? ou pitrol?
Ventinhos
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