São vidas que não compreendo. Ela sozinha nas ruas, tendo como companhia o seu fiel cão. Ele, perdido num sentido oposto ao dela, sem interessar qual, desde que em direcção contrária.
O cão é tudo aquilo que ela não teve... talvez por isso não sinta a falta dele lá por casa (a mesma a que ele só retorna ao fim de um mês de ausência, para 15 dias de "trabalho").
Uns dizem que são um casal moderno, que apesar de juntos à 26 anos, ainda vive em casas separadas, sem filhos porque isso significaria uma união. E ela vagueia pela rua nas suas roupas coloridas e extravagantes, "made in 80's", ele, com cara de "bicho papão mudo", murmura ditongos, hiatos ou apenas suspiros de conteúdo duvidoso e por vezes, obsceno, às meninas inocentes que se cruzam no seu caminho. Sim. Porque até os casais modernos passam pela crise da 3ª idade.
Não foi por isso de estranhar que ele não dissesse nada naquele dia. Já não o fazia à semanas, portanto, enquanto ela se passeava com o cão pelas ruas tantas vezes palmilhadas, do outro lado da cidade, um homem relata a pés juntos, ter visto uma onda engolir um homem que se encontrava nas rochas, a tirar fotografias em dia de tempo mau. Dizem que a justiça final sempre chega. Não sei se o merecia ou não mas sem dúvida que a morte dele foi o fim dela. Continua a vaguear pelas ruas com o cão ao seu lado. As cores de outrora deram lugar ao preto carregado, levando para longe toda e qualquer alegria de viver.
Quando chega a casa, a mesma que mal chegaram a partilhar, chora copiosamente como uma viúva a sério. Chora por alguém que nunca foi dela mas que na realidade não foi de mais ninguém. Pelo menos ela... Já ele, arrastado pela onda, naquele dia, levou-a também. E morreram os dois.
4 comentários:
hoje uma amiga minha a quem sugeri já há algum tempo a seguir o teu blog escreveu-me: "n sei se já viste, mas espreita o Konversas de kafé, o texto do "estranho amor" está brutal.."
fui logo ver e é claro que tive de concordar :)
:) é bom saber que gostam dos meus textos. A história infelizmente é real, só a minimização dos acontecimentos é que é minha...
Obrigada pelas palavras e obrigada pelas palavras da tua amiga ;)
oh, quando deixa de ser apenas uma historia para ser um acontecimento real, antes essa historia nao existisse... :/
é verdade... mas sabes, todas as minhas "histórias" são sempre baseadas em algo real... mesmo que minimamente... só que muitas vezes estão mascaradas pelas palavras. ;)
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