Era das coisas que mais apreciava aqui... andar nas ruas sem perceber a língua... sem conhecer ninguém... só eu sei o sossego que era... pela primeira vez estava num sítio onde a minha atenção se podia dirigir sem interrupções, para tudo o que realmente merecia atenção. Compreendermos o que dizem ou encontrarmos alguém que pára para nos cumprimentar, sempre foi uma forma de quebrar a nossa concentração, em dias que queríamos estar invisíveis. Poder fazer o que me apetece sem ninguém por perto para me julgar foi um sonho que durou pouco tempo... Neste momento sempre que pego na bicicleta com vontade de me perder nas ruas, sempre encontro alguém que me pára para dizer um olá e me atribuir um sem fim de histórias que contarão em casa: " Vi a professora do "x" na rua a andar de bicicleta que nem uma doida..."; "encontrei a miúda portuguesa..."; "passou por mim e nem me cumprimentou..."; "Estava no supermercado a comprar comida muito estranha!"... não me importo com o que dizem, mas chateia-me que me recordem que não me importo... faz-me perder tempo necessário a pensar nos episódios que não merecem tanta atenção, como os monumentos que vejo, as ruas onde passo, os livros que folheio na livraria ou os meus próprios pensamentos...
Volto a casa numa busca desesperada de sossego para no dia seguinte no trabalho, como se não bastasse terem-me visto na rua, ainda voltam a falar nisso como um momento auge das suas pequenas vidas... Compreendo a simpatia ou até a curiosidade mas por vezes, até eu gosto de me perder em mim mesma.
Sem comentários:
Enviar um comentário