Programa de sábado: não pensar. Não fazer absolutamente nada que me lembrasse algo mais do que o trabalho que tenho a fazer. Plano fácil. Desenho. Corte. Cola. Maquinal e criativo. Ligo a música para me ajudar. Errado. Os olhos fecham na melodia que ecoa nestas quatro paredes. O cérebro é atirado vezes sem conta de um canto do crânio para o outro. Sinapses. Informação. Memória. Pensamento. Tarde demais. Plano abortado. Já não estou em casa. Nem sequer na Alemanha. Em questão de milésimos de segundos tenho uma cerveja na mão e estou a 1000km daqui. Lá fora chove e neste lugar preferido, estou quente em corpo e alegria. A banda sonora perfeita para o momento. Sem palavras para o estragar. A companhia é a melhor e estou a rir para libertar um pouco a minha felicidade que transborda. Merda. Eu não precisava pensar agora. Abro os olhos. Mas a melodia continua a tocar mesmo que a tente parar. Saudade. É sempre aquela palavra que não existe em mais lado nenhum do mundo e que me acompanha como uma sombra. E mesmo nos momentos em que estou lá, ela não me abandona porque sei que tudo tem um princípio meio e fim. E a música continua a tocar. Para me lembrar que de vez em quando, isto é o que os outros chamam de felicidade. E eu aqui, incapaz de a sentir, admiro-me ao perceber que de vez em quando, também sou capaz. A música acaba. O pensamento perdura. Volto a casa e estou só. Presa na memória do que fomos. Somos? Não sei mais. E era exactamente isto que não queria hoje. Pensar.
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