O dia começou cedo para mim. Na agitação da manhã tudo é uma luta constante para que o corpo reaja. Visto a máscara que me acompanhará hoje em horas de festa e por vezes também, em dias banais. Serei uma bruxa este ano e tantas vezes ouvi esse nome associado a ti sem que nunca te fizesse jus. Afasto o pensamento. Concentro-me naquilo que é fácil mas a esta hora sabe a maratona.
Metro. Autocarro. Trabalho. Festa. As máscaras dão ar da sua graça fazendo-me perder em gargalhadas. Um bebé chora ao meu lado assustado e eu pego nele, embalando-o no meu corpo quente como tantas vezes o fizeste comigo. Acreditarias se te dissesse que anos depois, ainda me lembro?
Dou por mim a cantar-lhe a mesma melodia que tantas vezes ouvi na tua voz. Ele não percebe. A língua é outra mas acalma. Quer sair dos meus braços como eu nunca quis sair dos teus. Levanto-me do chão e trabalho maquinalmente tentando não lembrar. As horas para este dia acabar não passam. Sempre dizem que o tempo tudo cura mas então porque estou "doente"?
Perguntam-me porque estou assim em dia de festa. Respondo que a festa é das crianças e que hoje é um dia triste para mim. Calo. Nunca entenderão que este dia é um pesadelo que se repete anos e anos seguidos e que comemorá-lo, é sentir que traio quem amo.
Há quem nunca tivesse tido uma mãe. Eu tive a sorte de ter duas e uma delas, que sempre me acolheu e protegeu, partiu neste dia.
A mãe das nossas mães será sempre uma avó especial. Pelo menos para mim. A ela devo a vida também e mesmo que 14 anos se tenham passado, ela continua presente em mim. E eu poderia ser uma merda de pessoa, que ela arranjaria uma razão qualquer para me dar a mão. Espero ao menos que donde ela esteja, possa orgulhar-se da pessoa que sou hoje. Saudade...
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