Há muita coisa desagradável no ser humano. Mas faz parte de nós. Farpas é uma delas. Farpas, pus, puns, peidos, o nome muda mas o cheiro é sempre o mesmo... Farparmos-nos é um acto humano e devia ter hora e lugar marcado. Na casa de banho. Antes de sair de casa, durante uma pausa no trabalho, longe de tudo e todos. Não num lugar comum como um autocarro ou um metro, não a esta hora madrugadora. Tenham piedade de quem tal como eu acabou de acordar e levar com este cheiro de pequeno almoço mal passado, não faz parte da ementa.
Escrevo este texto no lugar do crime, na esperança que alguém me leia, compreenda e se acuse, em vez destes olhares acusadores como quem insinua: foste tu? E logo de seguida, saia do autocarro, faça o resto do serviço lá fora, longe de narizes inocentes. Mas não. Continua. Dentro deste espaço grande mas demasiado pequeno para isto, no calor do ar condicionado, as janelas fechadas com o frio que se sente na rua, de cuzinho quente a mandar farpas umas atrás das outras enquanto olha os outros em jeito de desaprovação e tapa o nariz. Não me resta opção a não ser respirar pela boca e sair na minha paragem sob os olhares que me fulminam. E finalmente, o ar puro.
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