Há noites assim. Em que adormeço mentalmente na sexta feira à noite e acordo vegetativa no domingo ao final da tarde. No entretanto, não estive aqui. Estive em mil e um lugares ao mesmo tempo, sem tempo para fotografias ou conversas. Nem sequer um café ou uma cerveja. Estive ali e acolá. Não estive em lugar algum. Sonhei que viajava. Que falava. Que reencontrava quem desejo. E acordei no mesmo sítio de onde parti. Nesta cadeira azul resgatada de outro alguém que nem aqueceu o lugar.
Há noites assim, que no final de uma semana exaustiva em modo " trabalho", chego a casa e não sei desligar o botão. Corta. Cola. Desenha mais. Cria mais. Vive menos. Não sente. Chama-lhe viver, come algo, dorme e recomeça tudo uma e outra vez. Sábado e domingo transformam-se em semana que nunca acaba e sexta chega como um grito de revolta que finjo não escutar. E depois? Depois choro. Ao ver o meu reflexo na fotografia que um outro nos tira e que é mais cruel do que o meu espelho em casa. Não sou eu nessa imagem. As rugas são minhas mas não as mereço. Os olhos cansados são culpa do trabalho e de muitas noites mal dormidas. O resultado final é algo que não me faz jus. Não me reconheço mais. E no entanto não consigo parar.
Hoje é o dia. De recomeçar o que sempre fiz ao fim de semana: tudo num doce nada. Hoje é o dia em que sou eu quem grita e revolta. Mas continuo a ser eu, sozinha numa cadeira dada e fria, a lutar contra mim mesma. A recusar o convite dos lápis. A ignorar os 1001 papéis coloridos que me confundem os olhos. A por "pausa" na minha imaginação em prol dos mais pequenos. A ignorar tudo isto e recomeçar a viver. Ponto de interrogação. Nunca fui boa de palavras, sempre fui mais de rabiscos e formas deformadas. Ridículo, consigo desenhar a coisa mais complexa e não consigo moldar a minha vida ao que realmente quero. E eu sei o que desejo. Só não o sei desenhar na realidade. Segunda-feira chega em modo repentino. Não quero. Quero apenas descolar destas quatro pernas frágeis que unidas formam um móvel e voltar ao lugar que me faz feliz.
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