A sociedade transformou-se numa nuvem de pó. Vejo as pessoas no meio da multidão mas nunca com a nitidez necessária para voltar a acreditar nela.
Quem é aquela pobre coitada que de bebé ao colo, pede dinheiro na rua com 33ºC? Quem são as mulheres que páram perto dela e de carteira Chanel, recolhem os trocos que ela fez?
Quem é aquele homem bonito que me olha com olhar de apaixonado e quem são aquelas 3 crianças todas parecidas com ele e com a mulher que foi ao WC?
Quem é a mulher que me dá uma rosa do jardim ali ao lado e a seguir me pede 1€ por ela? Corro atrás para lhe devolver a rosa e ela foge... guardo-a e é ela que corre atrás de mim e do dinheiro. Fica no chão. Como ficam todos os outros em quem já deixei de acreditar. O homem que simpaticamente me pergunta as horas e me faz cara feia quando percebe que sou estrangeira num mundo que afinal de contas, nunca pertenceu a ninguém. A mulher frustrada na caixa de supermercado, incapaz de simpatia. O homem que me vendeu, em inglês, o serviço de internet e se recusa a falá-lo quando preciso de ajuda. A todos os que aqui me discriminam no saco de emigrantes comuns, sem se lembrarem que também eu pago impostos.
Dizem que a culpa da frieza das pessoas, é da crise. É a maior mentira que nos contam. Aqui não há crise. Apenas a de valores. Aqui, em casa e na maior parte do mundo, já não há leis por onde as pessoas se regem sem que estas sejam para o bem pessoal.
E eu tento ser optimista. Abrir os olhos e tentar ver para além das aparências.... vejamos: temos o típico miúdo popular que aparenta estar nos seus 20's mas pede a um desconhecido mais velho que lhe compre cerveja provando que não tem mais de 16... está acompanhado por outro que ao telemóvel insulta a sua namorada por estar atrasada 5 min. Temos ainda a mulher que não contente com os gelados de dois sabores já misturados, insiste que o homem lhe ponha meia bola de um e meia do outro. Por trás dela, o homem de sapatilhas Nike que cata garrafas do lixo para recolher dinheiro de vasilhame no supermercado e logo a seguir, com a mesma mão que foi ao lixo, acaricia o cão de uma criança... e eu juro que tento... mas fica muito difícil.
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