sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

(in)capaz

Não faz sentido. A existência nestas 4 paredes sempre tão iguais.. A mesma caneca de café todas as manhãs enquanto contemplo a mesma paisagem de sempre. Passam os outros, os que se resignaram a esta vida. Os que não conhecem melhor do que esta rua triste. Não tenho fome. Sede. Força. Vontade ou alegria. Nem sequer tristeza. Estou apática. E não sei o que é pior... se chorar de manhã à noite, se querer fazê-lo e não conseguir, fazerem-nos rir e sermos incapazes. É tudo um nada imenso que me arrasta para a mesma cadeira de sempre.
A loiça que se acumula na pia. A gota que dança entre os pratos. Junto ao fogão que deixou de funcionar. Tudo morre numa morte lenta que apenas corre para me tentar apanhar mas eu fiquei transparente. Nada nem ninguém me vê mais. Nem eu me reconheço no espelho de luz ténue.
O pijama que fica no corpo por mais horas do que é costume. O cabelo sempre no mesmo penteado desgrenhado. A maquilhagem que ganha pó na prateleira. E a música. Sempre as mesmas músicas tristes que me lembram de momentos melhores que tento a todo o custo voltar e não consigo.
Estou deprimida demais para deprimir. Sou preguiçosa demais para pegar naquela faca e cortar os pulsos. E se a morte é uma consequência de estar vivo, neste momento, estar viva é uma consequência de não estar morta. Apenas isso.
É tempo. De empacotar as memórias. Abrir as caixas e enchê-las do que fui um dia. O que colhi. Acumulei. Ganhei ou comprei. Do que tentei e perdi. É hora de partir. Para onde o sol brilha de uma luz diferente. Uma paisagem colorida onde as pessoas usem um sorriso na cara. É hora de levantar.

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