Desde miúda que eu sei... que esta cidade é pequena demais para os meus passos. Pequena em comparação ao tamanho dos meus sonhos. Pequena na essência do meu ser ou na minha personalidade. Sempre soube que não fazia parte dela, apenas me foi emprestada para nascer... Aprendi a amá-la mas isso não me impediu de sonhar. E quando cresci e abri asas, voei... demasiado irritada com o que ela se transformou. Irritada com as pessoas que a controlam, com a apatia de quem cá ficou quieto em fazerem uma revolução e exigirem o que têm direito por natureza... Vi novas caras. Dos que não se calam. Novas culturas às quais resisti mas adaptei. Permiti a mudança em mim como um ensinamento que a vida me proporciona. Quatro anos passaram. Bons, maus, e voltei. Lentamente refeita da briga mental com o meu próprio país e cidade... Esperava a mudança. A evolução... e tudo o que vi foi o efeito nefasto de quem se calou e já não manda nada, mesmo que tente. A falta de oportunidades num sítio cheio delas. A falta de esperança corrompida pelo dinheiro dos outros que não o merecem. E eu deprimo. Tento e dou luta, por um lugar melhor. Vejo-me a viajar novamente. Entre quatro paredes mas quando dou por mim, a minha cabeça já vai longe. Por entre alguns kilometros abaixo de mim. Tarde demais. Já foi o coração também e aqui neste lugar onde o sol brilha embora não para todos, só o corpo se mantém.
Hoje, foi apenas mais um dia. Em que o meu cérebro navega noutras águas. Voei como um pássaro rápido, nas asas de um maior e para o melhor. De mim, de nós, do futuro... e assim que abri os olhos estava novamente no sítio do costume. Num banco solitário em regresso a um sítio que já dificilmente chamo de casa. Não sei para onde vou, ou o que será de mim mas sei que este não é o meu lugar... Aqui nada faz sentido na existência do ser humano que quer apenas ser feliz. E eu, vou novamente abrir asas... e voar... em asas maiores e protectoras. Em voos que dão sentido novamente, à minha vida.