Olho o relógio. Eu sei que ainda é cedo neste tempo que chega tarde. Eu sei que a esta hora ainda não sabes mas serás importante para mim. Será que eu sei?
Olho em volta enquanto espero. O mundo continua a girar, as pessoas a passar, as gaivotas a tentar apanhar o peixe que nestas águas não existe, o empregado que se demora a trazer a minha comida e no entanto o tempo parece parado. Os segundos que não avançam embora a minha cabeça viaje a mil à hora em pensamentos possíveis mas ainda não reais. Faço um filme na minha cabeça daquilo que gostaria que este dia fosse. Mas já fiz tantos que me perdi nas nuvens do céu.
Olho novamente o relógio. Não me diz grande coisa desde a última vez que olhei para ele... e tu tardas. Num passo calmo de quem não sabe o que esperar, de quem vai apenas viver mais um dia, igual a tantos outros no passado. E eu vejo-te. No meu pensamento. Envolto em chuva, raios de sol escassos em dias de Inverno que não chegam para me aquecer e nevoeiro mental. E tu tardas. Como o empregado que se perdeu em conversas com a miúda da mesa ao lado. Como a minha comida esquecida num grelhador. Será que ainda vou a tempo?
Chegas por fim. E eu não sei o que dizer. Tinha tanto para falar, contar... e perdi-me em mim mesma. Soltamos palavras soltas que a muito custo fazem frases. Não era nada disto que queria dizer mas tenho medo que as minhas emoções atrapalhem o momento. Ao mesmo tempo, o que haverá para atrapalhar? Somos apenas dois adultos, sentados numa esplanada, amigos que partilham histórias parecidas e diferentes entre si. Mas porque raio a minha cabeça teima em fazer filmes de outros tempos? Outros receios? Outros momentos? Outras pessoas? E consequentemente, o medo... De dizer o que não quero, de o dizer cedo demais quando para mim já é tarde? E pior, de dizer o que não queres ouvir?
Páro. Inspiro. Penso. E digo. Não sei o que quero. Não sei o porquê. Não sei como estas coisas acontecem ou como se lida com elas. Sei apenas que és importante. Numa existência que para mim sempre é um desafio todos os dias. Num tempo fora de tempo. E depois disto tudo, pergunto-te pela certeza de algo incerto.
Num tempo que chega finalmente. Num banco de jardim. Entre raios de sol escassos e ponteiros de segundos que andam bem mais depressa do que aquilo que quis.
Páro novamente. Como dar sentido se eu própria não faço sentido? E então ouço o que dizes. Se pensar nos envelhece depressa demais, porque não deixar de o fazer e limitarmos-nos a sentir o que o mundo nos dá? Tu não sabes mas naquele dia eu renasci e por isso mesmo, agradeço-te. Por todo um novo sentido que deste à minha vida. Por me dares a mão quando eu só precisava de um dia de sol. Por tudo o que representas para mim, mesmo que ainda não o saibas.
Sem comentários:
Enviar um comentário