Acredito que todos nós temos várias profissões. Eu sou a namorada. A mulher. A trabalhadora. A irmã. A filha. A tia. A amiga... podia ter mais... mas como aquele emprego de sonho que todos gostávamos de ter, este é mais difícil...
Dizem que hoje é dia da mãe. Mentira, hoje é só mais um dia consumista que nos faz abrir os cordões à bolsa para comprarmos algo a quem nos deu a vida e assim talvez as fazer esquecer ou perdoar os restantes dias do ano em que não lhe demos a devida atenção... Eu não consigo... desde pequena que gosto de agradar a minha mãe... a minha avó... quem me tornou em quem sou. Nunca foi só pelo dia. Mas pelos dias. Pelos anos. Pelos momentos. Pelos constantes conselhos e ajudas. Pelas gargalhadas e choros partilhados. Pelo bem e pelo mal. Mas os anos passam. E eu envelheço. Com sonhos de menina por cumprir. E este é um deles. Com 36 anos, este ano foi de todos o mais difícil. Nos restantes dias dos anos, sempre me lembram que a idade aperta... vejo-o nas fotos das amigas que celebram o 2º filho. Sinto-o quando a família me pergunta quando vou ganhar juízo. Sei que não fazem por mal mas será que sabem que não é culpa minha? Engravidar de alguém à toa só para ser mãe é ter juízo? Engravidar e não ter dinheiro para sustentar, é ter juízo? Não. É irresponsabilidade. E não é por isso que não sou mãe também. É por toda a falta de oportunidades na vida. É pela insegurança de um futuro em que não há futuro. E no entretanto os anos vão passando... Em mim, nos outros... de forma diferente... E eu vejo-os em todo o lado... nas ruas, nas fotos, à mesa de jantar hoje à noite... em que de todas as mulheres ali sentadas, eu era a única vazia. A única sem direito a um presente feito na escola. Sem direito a alguém que me chamasse de mamã. Alguém sem uma marca na Terra. E alguém sem histórias para contar. Era a irmã. A filha. A cunhada e a tia. Mas em mim, sempre a mesma sina. Mãe emprestada, seja no emprego ou como tia. Como babysitter de alguma amiga mas nunca a mãe de sangue.
Dizem que é dia da mãe. É. Como em todos os outros dias. Mas quando chegará o dia em que será também o meu dia?
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