Acordei no meio do silêncio com o sol a entrar pela fresta da porta. Fujo ao quarto de banho e espreito pela janela... o sr. Z. sentado na beira da piscina, agarrado ao seu trabalho portátil e por baixo de mim, o sir A. e sua princesa S. carregavam cadeiras de jardim entre um e outro abraço. Sorrio, visto o bikini e corro para o calor. Passo pelo quarto do canto, N. e S. conversavam uma espécie de monólogo... nenhum parecia estar a ouvir o outro.... No quarto das meninas, C. virava-se para o outro lado da parede, enrolada no saco-cama temendo a queda do tecto de cal enquanto S. se arranjava e finalmente na sala, L. e T. dormiam. ALVORADA!! Café! Preciso reparar os estragos da noite anterior. Seguiram-se banhos de sol e de piscina, algumas horas de lazer, que, sei bem, passam sempre a correr... quando dei por mim, uns tinham partido de volta à rotina e outros, preparavam o almoço tardio.
Sentada na cadeira, depois de meia hora a tentar entrar na água fria e consequente choque térmico, olhei para o que me envolvia... o casarão centenário, que a bem ou mal, resiste aos anos e que se falasse, histórias não lhe faltariam... das vidas que aqui passaram, as crianças que aqui cresceram e brincaram nos mesmos jardins onde me sento... Nas águas desta piscina antiga com tinta a descascar, nadam e riem outras gentes, alheias (ou talvez não), ao frio da água, enquanto são invisivelmente observados pelos fantasmas do passado que se sentam na prancha de madeira apodrecida, entretanto partida pelo sir A. e seus kg a mais.
No baloiço velho de ferro, encosto-me às suas costas brasonadas e baloiço onde outros se sentaram... fecho os olhos e sou atirada imediatamente para memórias antigas de infância, muito parecidas com estas de agora. Desperto com o fumo do churrasco e vejo mentalmente os que aqui cearam nas mesas de pedra (agora, cobertas de silvas), em dias de calor e lazer... É hora de comer, arrumar e voltar a casa... Fica a promessa de voltar a esta casa repleta de história a cada passo que dou.
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