Nunca fui forreta. Nunca consegui juntar mais do que 50 euros num mealheiro sem o arrombar umas quantas vezes. Sou eu. Sempre que tenho dinheiro perco-o nas coisas que me fazem feliz mesmo que isso signifique dá-lo a alguém. Quando não tenho, não tenho e pronto! Por isso mesmo esta tarde dei por mim no Ikea. É impossível sair de lá de mãos a abanar e já com as próximas férias no pensamento, fui comprando umas coisinhas. Com moderação... não como a maioria que entra nas lojas já com os cartões de crédito em punho.
Talvez por isso mesmo tenhamos dado por nós (enquanto nos deliciávamos com uma bela tarte), a olhar para as famílias que corriam em busca do que já têm em casa, queimando os últimos cartuchos dos restantes cartões de crédito.
Dizia-me ele: "Já viste as caras deles? Pessoas merdosas que passam fome em casa e vêm religiosamente ao shopping todos os santos fins-de-semana"... É verdade. Lá em baixo nas escadas rolantes o maranhal de pessoas atropelava-se por uma qualquer promoção. Fossem camas ou sofás, mesas ou cadeiras... é uma compra "só porque sim! Porque está em promoção!". Atrás deles passeavam os filhos, que matavam a fome a guardar religiosamente o copo de sumo ou cone de bolacha. Para quem não sabe, no Ikea existem alguns produtos assim: compra-se um sumo e guardando o copo podem enchê-lo vezes sem conta gratuitamente, o mesmo se passa com o gelado ou café... Por isso mesmo nos dias que correm, cada vez mais ir ao Ikea, é para muita gente, um "tirar a barriga de misérias". Cheguei mesmo a ver uma miúda a lamber um gelado meticulosamente sem estragar a bolacha enquanto dizia: "Oh mãe vou guardar o cone e na próxima vez já como outro gelado"... imaginei aquele mesmo cone, meses futuros cheios de bolor, a levar com bolas de gelado em cima... só porque é à borla... não é triste? Que os pais prefiram viver de aparências e os filhos a terem sequer que pensar desta forma desde tão pequenos?
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