sábado, 10 de dezembro de 2011

Dark city


Adoro quando falha a luz. Hoje foi dia. Não podia ter sido em melhor altura. Nove pessoas para jantar e comida meio cozinhada, meio crua no forno. Soluções? Voltar aos tempos dos nossos avós. Preparam-se as velas, as lanternas... e começa a piada da coisa: "liga aí ao x a avisar que faltou a luz!" -"Não posso. O telefone está ligado à ficha", disse eu. "Bolas! Então põe o jogo a gravar!"- "Também não posso, estás sem TV cabo"... "Fón..." Então e a comida?"... "Liga para a companhia da luz pelo telemóvel e pergunta quanto tempo vamos estar assim!"- "sim... isso posso fazer..." (o que se segue foi o resultado do telefonema): "Devido ao fluxo anormal de chamadas não vai ser possível por a sua chamada em espera- pic". Esclarecedor ah? Imaginei toda uma cidade em pânico... pessoas com medo do escuro, pessoas em elevadores, pessoas que já não se imaginam sem electricidade e outras que aborrecidas, queimam pela primeira vez as velas de decoração, porque se esqueceram qual o objectivo nº 1 das velas... tudo isto enquanto numa orelha esperavam por uma vez de ligarem às assistentes da EDP, aos berros (à boa maneira portuguesa!)!
Fenomenal. E volto à terra. Sem saber se quando terminar este texto já voltou a luz ou se entretanto vou ficar sem bateria no pc. Rio-me com as azelhices dos meus pais. O meu pai sentado numa ponta do sofá e a minha mãe que ia a passar entretanto, tropeça nos pés dele... "Aiiii o que é isto???... ahhh são os teus pés!". Entretanto pega no telemóvel e começa a marcar o número da EDP novamente, com os olhos franzidos. "Mãe porque estás com essa cara?" "Olha porque será? Porque não vejo nada!"... "Mas mãe, o telefone tem luz própria!"... "ahhh"...
Saio da sala aos zigue-zagues, a rir-me que nem uma perdida, em direcção à cozinha. Não me perguntem, mas subitamente deu-me a fome... É automático. Estamos tão habituados a ter tudo à mão de semear que nem pensamos: Deito a sopa para uma tigela e meto no microondas. Com direito a rodar o botão do tempo e tudo. Mas nada. "Então?" "ah... pois!"
E foi assim que vim ter aqui, ao meu quarto, à luz ténue de algumas velas de cheiro... (acho que nunca mais vou comprar velas vermelhas... parece um cemitério...) e aos 28% de bateria no portátil... acho que é melhor poupar e voltar lá para baixo... é que deixei o arroz de pato a cozinhar à lareira e a minha mãe algures a dizer que vai um bocadinho para o computador (O único que não é portátil!).
Até à luz do meu regresso.

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