segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vazio

O copo estava vazio. Em jeito de simpatia, alguém o encheu. Mais umas gotas de algo que me turva a vista, menos lucidez, mais ilusão em estado líquido. Penetra no sangue numa harmonia desarmoniosa e faz-me acreditar numa realidade criada com esforço pelos outros, à distância, sem que o pudesse comprovar. Acreditei e talvez por isso, fui.
A noite ia alta, o copo esvaziava com o passar das horas e a lucidez voltava aos poucos. Tudo estava vazio. De conteúdo, de vida, de palavras, de revoluções e novidades. Não há vida para além das nossas 4 paredes. Não há desenvolvimento nas mentes em crise. Não há motivação para lutar. Mas acreditei que sim e por isso aceitei ir.
Já esperava as palavras carregadas de falsidade em bocas que acreditam ser sinceras. Os abraços desprovidos de calor só porque seria o gesto certo da ocasião. As mesmas perguntas de quem já sabe a resposta ou pior, de quem não a quer realmente ouvir. Enchi o copo e preparei-me para isso tudo, porque sabia que lá pelo meio havia sinceridade, pelo menos em ti... talvez por isso, abracei... e espanto meu... foi recusado o gesto, corrido a um mero encostar de caras ruidoso... assim... desprovido de saudade, de amizade, de afecto.
O mundo está vazio e eu estava apenas embriagada. Agora que voltei ao estado normal, bati com a cabeça na parede e percebi que realmente as pessoas não mudam. Pelo menos, não aquelas que eu pensava estarem diferentes. Alguém tornou a encher o copo e eu despejei-o na sarjeta. Não quero mais beber desta realidade falseada em momentos de alegria, em realidades efémeras. E por isso vou-me sem data de regresso, de volta a um país que não finge ser o que não é e que não esconde quem reflecte no espelho. Longe de quem se aproveita da distância para dizer o que quer de si mesmo e dos outros, mesmo que nada seja verdadeiro.

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