Já não há tempo para escrever. As linhas deixadas ao abandono, esperam por mãos mais capazes, que as preencham. Com palavras bonitas, curtas ou compridas que embelezem a realidade fria e feia que vivemos.
Não há tempo para falar. As mesas vazias cobertas de pó com as cadeiras deformadas pelo peso do passado, continuam a vista como prova de que um dia houve tempo para nos sentarmos, sozinhos ou acompanhados, escrevendo ou falando com alguém.
Nestes dias em que o tempo não tem tempo, já
ninguém escreve cartas. Não há tempo para escrever e também não saberiamos o que dizer porque paramos de falar.
Paramos de ouvir. Não por surdez mas por uma estranha forma de agnosia auditiva. Somos nós que nos esquecemos dos sons das palavras, do seu sentido e conscientemente, matamos o contacto.
Do viver em sociedade passamos a ser sós. Egoístas, mesquinhos, calados. Temos todo o tempo do mundo para viver e no entanto preferimos morrer.
Não há futuro num presente que se mata. O suicídio mental tomou conta de nós e esperamos apenas que alguém tenha a coragem que nós não temos e nos desliguem as máquinas.
E eu escrevo. Sentada numa cadeira que insiste em não deformar, sacudindo o pó que se acumula e falando sozinha para não esquecer as palavras ou o som delas. Sei que sou una e talvez um dia não resista mais... assim de repente, faltarem-me as forças e transformar-me em mais uma nesta multidão que se empurra e atropela... Mas até lá falo. Escrevo. Grito. Revolto-me. Na esperança que alguém ouça e acorde deste coma induzido que se instalou.
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