Sentido. Real, figurativo, sentido. Palavras sem lugar num mundo de onomatopeias. Não me sei explicar quando roço a realidade. Não a sei contar sem recorrer a mecanismos que retirem metade do seu peso. Da sua medida e acima de tudo, do seu efeito em mim ou nos outros. Perco-me em sons. Em palavras que invento na falta de outras melhores. Confundo uma história que só eu compreendo, deixo os outros envoltos num mar de perguntas que ficam sem resposta por não terem coragem de questionar. Falta valor. Falta lucidez numa realidade que se quer clara. Falta explicar o que para mim não tem explicação. No meu dicionário, não existem regras de gramática. Palavras criadas por outros. A minha linguagem é própria de quem passou uma vida a fazer os outros rir e agora, não sei mais comunicar. Já ninguém ri. Já ninguém lê. Já ninguém conversa. Que som fazer quando a realidade é mais triste do que deveria ser?
E assim parto. Tal como cheguei. Sem anunciar. Sem falar. De fininho para não acordar quem nunca compreenderá o que digo. Saio para um leito que frio me consola. Abraço os livros que o rodeiam e perco-me eternamente nas histórias que outros contam. Compreendo melhor. Fazem-me rir e por vezes chorar mas pelo menos, o seu sentido é sentido.
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