O dia nasceu feio como muitos outros aqui. A multidão que se atropela em sandálias alemãs e moda ultrapassada, segue em direcção ao incerto. Passam à frente dos meus olhos sem me verem. Sem nada ver. Observo-os desta esplanada como se fossem formigas... todas são clones umas das outras, seguem ao mesmo passo sem diferença de ritmo e cada uma tem a sua função. Ninguém parece falar. Ninguém ri. Nem sequer sorri.
Passa subitamente um rasgo de cor. A formiga revoltada que tenta ser diferente das demais e acaba esmagada pelas outras. Carrega na mão a vida dos outros em metáfora de balão. E subitamente tudo faz sentido. Os outros não passam disso mesmo. Um balão pequeno que vai enchendo com a frustração da rotina, na esperança de um dia ser livre e voar mais alto mas que por descuido, acaba por encher demais e rebentar... antes que o fio se solte da mão. Antes de se darem conta de que é tarde demais.
Já não vejo o Homem do balão. Quero acreditar que voou e é livre desta apatia. Mas não o vejo no céu. Decididamente, hoje é dia de parar de soprar no meu próprio balão.
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