Muda o dia. Mil e uma voltas em torno de mim mesma e páro no mesmo sítio. Sempre. Cansada. Confusa. Desorientada. Nesta cidade de ruas que levam a todo o lado, perto da esquina da rua Lado Nenhum com a avenida Sem Futuro, encontro todo um sem número de almas vazias. Caminham numa enorme multidão sem rumo, sem saberem onde ir, sem nada. Eu sou mais uma... alma penada sem pés e com mãos atadas. Carrego como o poeta, em mim, todos os sonhos do mundo... do meu apenas porque dos outros, já ninguém os conta.
Rodam os minutos no relógio invisível como se fossem horas, num tempo que já não tenho. A vida gira em torno de tudo e de nada. Dos outros. Das pessoas. Do mundo. E eu colo ao chão quando antes nunca lá tocava.
É assim o regresso difícil de quem nunca chegou realmente a partir... e sinceramente, nem a regressar... no entretanto, ficou o que resta de mim separado em bocados pelo mundo que chamo de casa. Os que cá ficaram, eu não reconheço mais. As vidas são as mesmas e pecam pela falta de evolução. O mundo delas também parou mas de uma forma estranha, continuam a respirar... lamentavelmente, apenas isso. Sem revolta. Sem luta. Sem um primeiro passo no meio de outros apenas imaginados mas nunca dados. O que é feito das promessas passadas? Do espírito aventureiro que alimentava as nossas vidas sempre tão rotineiras e sedentas de mudança? Mas nada... eles olham para mim como se de um bicho raro fosse... Não compreendem o que eu digo, tratam-me como se fosse a mesma pessoa que eu própria encarreguei de matar. Não é que não vejam a diferença... eles sabem... só que admiti-lo, obriga-os a ser diferentes... coisa que eles mais temem. E eu expludo mentalmente. Inspiro e faço aquela cara de quem concorda com todos e expiro profundamente... Mais uma pessoa que matei da minha lista e que nem reparou.. uma e outra... caem como tordos e assim acabo sozinha. No mesmo sítio, procurando a rua da Revolução, paralela da travessa da Emigração... "está muito longe ainda"- dizem-me em coro... Não, não estou... estou mais perto do que pensam. Novamente...
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