Pausa. Os minutos colaram e parecem horas que demoram a passar. As palavras abandonaram-me em busca de bocas mais sábias e com melhores histórias para contar e a vida repete-se em constantes momentos sempre iguais ao anterior, vazios de conteúdo. De emoção. Nada de novo acontece e até o sol abandonou as minhas janelas para dar lugar à chuva. Pausa. O prédio morre aos poucos, mais lentamente do que os que o habitam e eu vejo a decadência de tudo e de todos sem que nada possa fazer. Tenho medo. Medo que sem forças para lutar, seja contaminada nesta degradação. Pausa. Disseste-me outro dia em conversa, que este não era um sítio sinónimo de felicidade. Eu sei. Mas também sei que já me esqueci do que isso significa. Preciso de ti. Dos outros. Do que deixei para trás e talvez assim, voltar a fazer sentido. Pausa. Para recordar-me dos dias que passamos na praia de água gelada onde só tu tinhas coragem de nadar. Onde eu torrava ao sol ou gastava palavras com os outros. Ou simplesmente, via as ondas que enrolam nas pedras coloridas. Tenho-as ainda guardadas para que nunca me esqueça desses dias mas deixei-as tal como aos outros, numa caixa que ficou para trás. E agora? Estou tão longe daí que me sinto perdida algures no caminho. "Encontra-te!"- dirias-me. Se tu soubesses o quanto me é difícil agora... Foi para isso que aqui vim e agora que dois anos e meio passaram, sinto que apenas me desencontrei. Enchi páginas do meu livro de vida mas se o espremer, só escorre quantidade... E isso nunca foi suficiente para mim. Vi recentemente duas pessoas diferentes, que toda a vida acumularam coisas que lhes diziam algo ou relembravam momentos felizes, partirem desta vida sem elas. Acabaram num contentor de lixo, comidas pelo bicho e pelo pó porque não dizem mais nada a ninguém. E eu não quero isso para mim. Pausa. Preciso de algo que todo o dinheiro que posso receber aqui, nunca puderá comprar. Preciso de mim.
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