Turcos que montam mesas e cadeiras na rua durante a madrugada para falar alto e beber, vizinhos que chegam a casa bêbados e decidem bater à porta aos berros, chuvas intensas que inundam as caves e estragam bicicletas, bebés recém-nascidos a chorar a toda a hora ou crianças mal educadas a fazerem birra sem que ninguém lhes assente a mão... Já mudavas de casa e rua não????
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Fim da batalha
Saio. Tal como prometi, derrotada de forças no corpo. Braços caídos e lágrimas que jorram de olhos outrora bonitos e alegres e agora meros órgãos sem vida. Eles serão eternamente o espelho da alma e a minha, está mais escurecida do que nunca. Mas foi isso que te prometi. Palavras ou a derrota. E perante o silêncio, cumpro promessas feitas ao vento. Aos teus ouvidos que já não são feitos para me ouvir, digo um adeus que não sei a duração. Amanhã? Um ano? Sempre?
Agora sou eu que estou incapaz de ouvir. Nada faz sentido e as palavras deixaram de fazer ligação entre elas. Não existem diálogos. Monólogos. Nada. Apenas palavras que sozinhas nada me dizem. E os braços vão caídos. O coração partido em mil e um bocados e o sentimento em luta preso em mim. Esquece. Esquece mil vezes e volta a esquecer. Nada mais me resta fazer e mesmo no dia em que esquecer, vou esquecer de me lembrar que esqueci. Até lá, sigo em marcha lenta de derrotada que não aceita a vitória do outro. Uso a capa da vergonha por não ter conseguido ser mais e melhor e sigo caminho. E por isso, esquece também, que alguma vez falei.
sábado, 26 de julho de 2014
Hipster e sua irmã
Programa de sábado: não pensar. Não fazer absolutamente nada que me lembrasse algo mais do que o trabalho que tenho a fazer. Plano fácil. Desenho. Corte. Cola. Maquinal e criativo. Ligo a música para me ajudar. Errado. Os olhos fecham na melodia que ecoa nestas quatro paredes. O cérebro é atirado vezes sem conta de um canto do crânio para o outro. Sinapses. Informação. Memória. Pensamento. Tarde demais. Plano abortado. Já não estou em casa. Nem sequer na Alemanha. Em questão de milésimos de segundos tenho uma cerveja na mão e estou a 1000km daqui. Lá fora chove e neste lugar preferido, estou quente em corpo e alegria. A banda sonora perfeita para o momento. Sem palavras para o estragar. A companhia é a melhor e estou a rir para libertar um pouco a minha felicidade que transborda. Merda. Eu não precisava pensar agora. Abro os olhos. Mas a melodia continua a tocar mesmo que a tente parar. Saudade. É sempre aquela palavra que não existe em mais lado nenhum do mundo e que me acompanha como uma sombra. E mesmo nos momentos em que estou lá, ela não me abandona porque sei que tudo tem um princípio meio e fim. E a música continua a tocar. Para me lembrar que de vez em quando, isto é o que os outros chamam de felicidade. E eu aqui, incapaz de a sentir, admiro-me ao perceber que de vez em quando, também sou capaz. A música acaba. O pensamento perdura. Volto a casa e estou só. Presa na memória do que fomos. Somos? Não sei mais. E era exactamente isto que não queria hoje. Pensar.
Para ti.
Hoje, voltei a ser pequena. A mesma miúda que correu para a cozinha e fechou a porta do quintal para fugir do irmão que a perseguia de patim no pé e o fez abrir o pulso no vidro. A mesma miúda que aprendeu a fazer fisgas como deve de ser com ele. A mesma pequena que o chamou à escola para bater num colega responsável pela reguada que levei da professora. A mesma, que construía casas miniatura com restos de cimento para guardar os nossos carros. Aquela que tinha lutas de cão e gato entre castelos feitos de almofadas no sofá. A mesma que se agarrava a ele aos berros quando me levava de mota para os pinhais e mais tarde, a mesma que viu o joelho dele aberto quando caiu dela. A menina pequena que pedia para brincar com ele mas a idade tornou-nos distantes. Gostos diferentes. Eu por bonecas, ele por bonecas a sério. Eu por carrinhos de brincar, ele por motas de corrida. 5 anos são anos que nos separam mas que também nos unem. Sempre distantes mas sempre à distância de uma porta de quarto e mais tarde, por uns metros de casa. Hoje, somos mais unidos do que alguma vez nos imaginamos mas estamos mais distantes... Uns meros 2000 km. mas hoje, sou a mesma menina pequena que teve a sorte de ter tido não um irmão mas O Irmão, no verdadeiro sentido da palavra. Foi com ele que fui à discoteca a primeira vez. Foi com ele que saí as primeiras vezes. Era ele que me dava cervejas à borla. Que ouvia as minhas histórias e as guardava para si. Foram óptimos momentos e maus também, como toda a história deve ser. Hoje, casado e pai, deu-me uma das melhores prendas da minha vida, um sobrinho que me relembra o passado, me alegra no presente e me faz sonhar com o futuro.
Hoje sou pequena e celebro com ele. Entre o peso das memórias passadas e também das futuras que com toda a certeza, viveremos, parabéns! És e serás sempre o meu melhor amigo. No meu coração, estou perto dele a bufar aquelas cinco velas a mais.
Palavras repetidas
Dizem que as palavras repetidas sem conta, levam ao vazio. Vai-se o sentido e fica apenas o som. Dizem-me isto e tantas outras mentiras que fico sem perceber porque o fazem. Se por inveja ou por desconhecerem a verdade. Essa, vem apenas por vezes e eu sei que é verdade que já acreditei nessas mesmas falsas verdades, falsos dizeres.
Agora que te ouvi, mais te quero ouvir. Quanto mais me dizes, mais me prendes. Quanto mais te repetes, mais as palavras ganham significado. E quanto mais te explicas, mais eu me complico neste mundo de sentimentos. A verdade, é que não me canso de te ouvir. Por uma ou outra vez que te repitas, sempre faz sentido e aceleras um lugar que muitos chamam de coração.
Eles dizem que não é verdade mas eles não sabem. Não conhecem ainda o sentido das coisas quando se ama alguém de verdade. Seja um parceiro ou um amigo, parente... eles dizem que é mentira mas em mim, é a mais pura verdade.
quarta-feira, 23 de julho de 2014
A vida é feita de provérbios.
Sempre ouvi o meu avô dizer que:" de pequenino é que se torce o pepino" e logo eu que nunca gostei de pepinos e os anos me fizeram grande sem dar conta disso. Foi apenas a água fria em pedra dura que tanto bateu até que furou, a única culpada do meu trajecto. E porque quem tem boca vai a Roma, depois de ter falado até a Alemanha, outras portas se abrem, umas atrás das outras. E eu não sei o que fazer. Como de loucos e tolos, todos temos um pouco, apetece-me ir atrás da montanha prometida uma vez que ela não vem até mim e tentar agarrar um pássaro que insiste em voar na companhia de outros dois que voam perto.
O plano para hoje é simples, vou deitar cedo e amanhã, erguer mais cedo ainda, com saúde para crescer um pouco mais. Porque quem tem medo compra um cão e eu só tenho um gato, não há tempo a perder. Mãos à obra, arrumar os tarecos da tareca e sair. Mas o buraco no ozono trocou-me as voltas e em Abril já não há águas mil, restam todos os meses do ano para isso acontecer e lá fora chove e faz frio... O cão ladra e a caravana passa fazendo-me perder a boleia. Corro. Os cães continuam a ladrar mas não mordem. Continuo. Já vou depois da hora. Já não sou pequenina para torcer vegetais mas vou. Porque mais vale tarde do que nunca.
Dizem-me ao fundo, em vozes distantes, que quem não arrisca não petisca e eu estou disposta a engordar pelo mundo em vez de emagrecer numa morte sem luta. Não há nada a perder. Amanhã, seja lá quando isso for, vou acrescentar mais um ponto a este conto. Esperei mais do que devia e quase desesperei mas continuo a acreditar que vou alcançar. Porque o céu é o limite e depois da tempestade, sempre vem a bonança.
Turquia alemã
Chove sem parar. Molha os tolos. Lavam-se os sem abrigo. As ruas, nunca limpas de forma igual. E eu, na minha alma impermeável vejo-os entre protestos, escondendo-se nas arcadas dos prédios enquanto a alegria vem à rua em forma de crianças que saltam nas poças, gritando mais e mais alto entre cada salpico. Os pais, gritam ao longe como se esta água fosse ácido ou balas perdidas entre a multidão. Eles cresceram e esqueceram-se como serem felizes.
A chuva pára. Voltam os infelizes ainda a olhar o céu na dúvida duma granada a qualquer instante, com medo da simples água e da própria sombra. Escurecem as ruas com os seus mantos, num tom muito mais preto do que este céu pesado e as crianças dão lugar a outras que se arrastam em pernas fracas. Afinal de conta, a chuva não nos lava só da sujidade... Traz apenas a beleza do ser, detrás da comum aparência. Sem ela, eu podia jurar que nunca vi tanta gente deficiente em tão pouco tempo.. Eles caminham... Ora sem uma perna, sem as duas, cochos, ou numa outra qualquer condição que não sei explicar ou pensava já não existir. São todos muito iguais entre si. Denunciam um pecado que entre eles é regra. São todos filhos de casamentos entre parentes e não são uma minoria. São de facto, demasiados. São seres que antes mesmo de nascerem, já estão condenados a não saltar nas poças, a não recuperar as forças que nunca terão e possivelmente, destinados a um outro qualquer parente. E eu sou obrigada a assistir a esta parada de para-anti-olímpicos todos os dias de sol. Lembrando-me que aqui, sou eu a minoria e talvez a defeituosa. Venham por isso mais dias de chuva e tempestade que me façam lembrar que no meio desta estranha realidade, há outra mais normal.
terça-feira, 22 de julho de 2014
Nota da gerência.
A vida é estupidamente simples. Somos nós a raça estranha que a complica. Temos em nós o chip de fazer de tudo em excesso e mais complicado do que é na realidade, numa tentativa ridícula de nos armarmos em maus ou heróis. Depende da perspectiva.
Nunca irei compreender esta lógica e prefiro sempre deixar a preguiça tomar conta de mim e fazer pouco do que fazer demais e ter a vida numa constante teia de stress e complicações... já dizia o meu sábio avô: "depressa e bem não há quem" e ao fim de anos a ouvir isto, cada vez percebo menos porque é que as pessoas mentem, enrolam, complicam, para fazer algo mau, bastante depressa, à espera de serem os melhores ou simplesmente caírem nas boas graças de alguém... Mesmo que na realidade isso represente dar-se mal com meio mundo. Valerá a pena? Continuarei a ser simples na minha maneira básica de ver a vida por um prisma menos complicado do que a maioria o pinta mas irrita-me solenemente viver rodeada de pessoas que não têm nada melhor para fazer do que fazer mal ao próxima numa busca impossível de se sentirem menos incapazes do que serão sempre.
Wondering
Assim me construo. De pensamentos ilógicos e verdades não absolutas que me provam a minha existência. De incertezas que me permitem o movimento certo, numa mistura ordenada de extensão e flexão dos membros. Podia ser tudo uma fachada. Mas ando incerta no caminho, certa nos meus passos. Sem medo, mesmo que me direccione para um abismo. Quem me olha ao longe, não sabe que me construo de areias movediças nas quais danço para me iludir da minha fraqueza. Mas vou. Incerta do sentido dos sentidos. Certa nos meus passos. Sem saber quem está preso na minha cabeça.
Já desisti de me questionar, quem sou por detrás de mim. Assim, munida de dicionário, calculadora, manual de instruções e opiniões dos outros num qualquer referendo. Para chegar a conclusão nenhuma. E vivo bem. O problema só surge quando o que sinto e não compreendo, ganha nomes que sei bem o significado. Raiva. Loucura. Tristeza. Solidão. Alegria. Amor. Ansiedade. Sete outros pecados que não matam mas confundem. E como se não bastasse toda esta incompreensão, ainda o sinto por pessoas que nunca vi dessa forma. Refugio-me novamente em mim em busca de calma. De conforto após a tempestade. Mas tudo me obriga a parar e pensar. E por onde começar se nem sei o que procuro? Volto às fórmulas matemáticas que me acompanharam naquilo que me pareceu ser uma vida. Perco-me. Recomeço. Troco os sinais. Recomeço. Equações demasiado impossíveis. Desisto. Nunca conseguirei responder às perguntas que me exigem quando nem eu mesma sei as respostas. Por muito que fale. Escreva. Serei sempre ilógica e incapaz de explicar a lógica deste caos. Mas para mim faz sentido. Que sentido faz?
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Tonight
Não vamos falar hoje. Vamos apenas sentir. Fazer de conta que lá fora é um conceito distante que não penetra de forma alguma entre estas quatro paredes. Não vamos fazer nenhum som. Apenas o da nossa respiração enquanto nos olhamos na esperança de conhecer o que não sabemos conhecer. Não vamos estragar este momento com palavras ditas para preencher um vazio que só nós criamos. Não iremos falar da chuva que cai lá fora e molha os tolos. Não vamos sentir o frio que não existe dentro de nós mas gela tudo lá fora. E vamos ficar assim. Olha-me como nunca olhaste. Como sempre quiseste e nunca tiveste coragem. Como se fosse algo proibido. Prometo olhar-te da mesma maneira que sempre olhei mas nunca te contei. Toca-me se for isso que precisas para sentir a verdade. Abraça-me se precisares de sentir a força do conteúdo imenso do meu silêncio ou esbofeteia-me se assim for necessário.. Mas não fales. Sentaremos-nos numa mesa de duas cadeiras unas e ficaremos frente a frente num confronto decisivo. Olha-me nos olhos e prova-me que estou enganada. Ou então que estou certa e o resto do mundo não nos aceita desta forma. Deixaremos todos do lado de fora da porta e chegaremos a uma conclusão. Livre de opiniões maldosas, livre de interesses, livre de palavras que por muito que sejam ditas, confundem e enganam. Prova-me que por detrás deste olhar não há nada de novo a revelar e prometo sair porta fora em pose de derrotada. Vencida numa luta que apenas eu criei. Ou então, prova-me o mundo e prometo vivê-lo em pleno.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Dúvidas
Estamos ébrios e não demos por isso. O álcool que sobe em nós molda-nos o pensamento e deixamos de pensar em tudo o que não queremos para sentir apenas o conforto dos sentimentos. Será assim que nos encontramos? Numa dessas noites em que um punhado de moedas no bolso nos traz o consolo dos restantes dias vazios? Em que o que dita o contacto é uma cerveja a mais ou a menos? E a ressaca? Ela sempre vem no dia a seguir. Como uma bomba atómica prestes a explodir em vergonha do que fomos na noite anterior. Nunca me arrependo. Nas noites destiladas sinto sempre aquilo que penso mas e tu? E os outros? É assim tão diferente a realidade? É assim, ou seria assim, tão má que só eu, afinal de contas, estou ébria e não sei? Sou eu que estou já a ver as pessoas a dobrar, os sentimentos exagerados e não notei? Dúvida.
domingo, 13 de julho de 2014
?
Tu nunca me perguntas. Nunca me dás o mote para te dar as respostas difíceis que explicariam o simples. E continuas assim. Na dúvida, perdido em mil e um pontos de interrogação como quem tem toda a coragem do mundo e na beira do abismo, perde as forças nas pernas. Desistes das perguntas a mim e enches-te delas em ti mesmo... E eu aqui, com todas as respostas na ponta da língua.
Perguntas apenas o básico. Aquilo que explica o que faço mas não quem sou. Aquilo que estou a ver mas nunca o que sinto. Surpreende-me! Por uma vez na vida, dá a volta a ti mesmo e atreve-te a perguntar. Pergunta-me quem sou, o que penso do mundo actual ou da política sem graça nem dinheiro que nos empobrece a alma e o bolso, pergunta-me o que me faz chorar ou rir, o que me alegra ou chateia. Ao fim destes anos, o que pensas tu saber de mim se nunca me deste uma hipótese de me dar a conhecer?
Dirias certamente que as minhas acções falam muito sobre quem sou. Mentira! As minhas acções são sempre baseadas naquilo que alguém interpreta delas ou então, fruto de uma censura num ou outro assunto, uma ou outra palavra.
Sabes o que realmente me chateia? É o poder que não tenho sobre a ausência. Não a poder evitar... Especialmente a forçada. A obrigação de ter de me manter longe quando por vezes queria estar mais perto dos outros. Dos meus. De ti. Ter de evitar conversas e sentimentos que vão exigir um contacto que o mundo inteiro nos proíbe. Uma vez na vida, gostaria de ter a coragem suficiente para lutar contra ele.
E ficamos assim. Longe um do outro. Separados em km e em anos luz de pensamento. No segredo da noite, como um acto clandestino que oprimes durante o dia, fazes a ti mesmo as perguntas que só eu saberia responder, sem chegar a conclusão certa. E eu já não sei mais o que te dizer.
Nota da gerente
Obrigada a quem organiza a copa por ter jogos decisivos ao Domingo em plena véspera de trabalho. Obrigada pelo barulho que vou ter de aturar mesmo que a Alemanha perca, seguindo-se o barulho das crianças no trabalho.
E como os que torcia foram sempre perdendo, é caso para dizer: que vença o pior. Tenho dito.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Deep green
Serei sempre assim. A eterna distraída que bate vezes sem conta no mesmo poste e tropeça sempre no mesmo paralelo sem se dar conta. Houve apenas uma vez nos meus 33 anos que vi o que muitos não veem uma vida inteira só e apenas porque não lhes damos a devida atenção. Costumo brincar e no fim de algumas nódoas negras dizer: " às vezes precisava de quase me afogar para ver o que me rodeia com extrema exactidão"... Mas tem a sua meia parte de seriedade. Foi a única vez em que vi o que não voltei a ver. Não da mesma forma e ainda hoje lembro o dia em que uma onda mal calculada me tirou o chão dos pés e me arrastou para o fundo daquelas águas. Aos pés, inertes, lembro-me de os ver entre as bolhas de água, misturados entre o verde escuro de um sítio distante da luz que me torra a pele. Calma. Muita calma. De quem deixa de ter medo de morrer. Aquela linha invisível que nos mata ou devolve a vida. Tudo pára num instante de centésimos. A urgência do respirar desaparece para dar lugar a uma data de momentos que me passam em flash... Adrenalina. De quem continua a não ter medo de morrer mas decide fazê-lo a tentar viver. Fecho os olhos. Pés na areia e novamente a bomba de oxigénio que engasga os meus pulmões. 17 anos depois, não voltei a ver o que vi mas o que vi manteve-me viva até hoje. E no meio da vida que nunca quis caótica, vi a aproximação de um caos que me muda os pensamentos mas que de alguma forma, era há muito desejado. Só hoje o percebi. Correcção, só hoje tive a certeza e o aceitei. Serei sempre assim. Nunca pensarei no que não vejo mas por vezes, sou eu que me recuso publicamente a ver. Vejo-o por vezes, secretamente em momentos de vazio ou solidão. Talvez se os dias fossem outros, se as distâncias se cortassem com lâminas destas tesouras que prometem cortar ferro se nem cortam papel, se as certezas fossem certas no meio da incertidão que nos ocupa o espaço e o ser... Talvez a realidade pudesse ser real... Mas seria fácil demais e nunca lhe daríamos o verdadeiro valor. Seria ruim em excesso. Vazio de conteúdo e de conversas ao fim de umas semanas.
Hoje afoguei-me outra vez. E novamente a calma trouxe a fúria de viver. Reconhecer quem sempre conhecemos e nunca vimos com olhos de ver. Hoje, depois de todo o choro das crianças dos outros, de 40 fraldas mudadas e 8 horas de trabalho em dias que copiam o inverno, cheguei a casa e vi-te. E em ti, vi-me a mim.
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