quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Coincidências infelizes


Hoje é dia das bruxas, halloween se preferirem... eu não prefiro.. é dia dos mortos no resto do mundo, para mim é apenas o aniversário da morte da minha avó...
Não há doces, não há partidas, muito menos festas ou segundos carnavais... nada! Apenas saudade, mas essa está presente todos os dias... não só dela como de todos os outros avós que já partiram... em 7anos perdi os 4... aos 12, aos 14, aos 17 e aos 19...
Perdi-os muito cedo... demais! E se soubesse o que sei hoje, teria-os tratado melhor. Discutia menos... compreenderia que já não eram novos e que exigiam mais paciência... Por isto, por ser tarde demais, entristece-me saber que as pessoas maltratam os idosos! Bolas, o cabelo branco deveria fazer a diferença!
Outro dia ouvi uma bela frase: "A morte põe as coisas no seu devido lugar..." parece ridículo pois ela transforma o nosso mundo, provoca um turbilhão de sentimentos, mas se pensarmos um pouco, não é esse o nosso fatal destino? É ela que nos dá força para continuar em frente, para lutarmos por algo melhor... enxugamos as lágrimas e seguimos em frente, mais fortes que nunca, para não nos deixarmos apanhar por ela... pelo menos tão cedo...
No caso da minha avó, era inevitável... só se uma data de tristes coincidências não tivessem acontecido é que não o seria...
Engraçado, não consigo visualizar como tudo aconteceu, mas consigo ver em rewind... em velocidade rápida, como quando puxamos uma cassete atrás...
Gostaria de ter o poder de carregar "pause"... Nem pedia muito, sei que o "stop" não funcionaria, mas só queria mais cinco minutos no mínimo, para lhe dizer umas quantas coisas que lhe disse a vida inteira, mas nunca com a força de uma despedida... mas ninguém estava à espera disso...
Era a hora dela... e até que ponto estaria eu a ser egoísta em prolongá-la? Por quanto tempo? Minutos? Dias? Mais tarde ou mais cedo:" Podes fugir, mas não te podes esconder"...
Morreu no dia das bruxas, mas não era uma... Ouvi rumores que em nova conseguia ser... mas não para mim... Ou então era 1bruxa boa com poder de curar todos os meus males...
Seja como for, egoísta ou não, só posso dizer que gostava de ter os meus avós por cá outra vez... ou ainda... tenho saudades... da vó Sofia a comer o pescoço da galinha, o avô Domingos a chamar-me (carinhosamente) "impostora", o vô Zé e as suas histórias da tropa ou o ensinamento dos rios e da vó Rosa pelo colinho de 2ª mãe, do beijinho no beiçinho e do sabor da sua comida...
Sem dúvida que a morte põe tudo no lugar... As avós com os avôs a guiarem-nos, nós a continuarmos as nossas vidas, aceitando... no meio de tudo, alguém se esqueceu de falar do buraquinho no meu coração*****

3 comentários:

SF disse...

Sabes do que tenho saudades prima? De nós em pequenas todas esfoladas de saltarmos o muro cheio de silvas para ir para o café da D. Fina, do avô domingos se passar com a barulheira que nós faziamos, aquela barulho característico de uma infância feliz. Tenho saudades da avó sentada no hall de entrada a olhar para a rua, tenho saudades de escorregar no cócó das galinhas a caminho da garagem, e dos coelhos fazerem xixi no colo do avô. Tenho saudades do teu irmão a fazer-nos a vida num inferno.
Tenho saudades do meu pai, principalmente quando preciso de colinho.
Enfim, tenho saudades daquilo e daqueles que nos tornaram no que somos hoje.
Trabalho todos os dias com a morte, e sei que ela não põe nada no lugar, mas há uma coisa a que a morte não chega, às memórias, essas ficam para sempre.

Strawie disse...

Tens muita razão prima!! Também tenho saudades desses tempos, terão sido uns dos melhores da minha vida e só tenho pena que a maioria das crianças de hoje nunca vá conhecer esse tipo de aventuras e brincadeiras... nem sequer lhe dar valor... e as memórias, essas nunca se vão apagar como dizes, mas são elas que ainda me fazem ter mais saudades...a bem dizer, tenho saudades de ser pequenina e de não compreender a morte como a compreendo hoje.. *****

johnny D disse...

Eu perdi os meus dois avós já há uns bons anos, e tenho pena de não ter falado mais tempo com eles. É verdade que as minhas avós ainda estão por cá, e estou grato por isso. Agora que sou mais velho e responsável (só em algumas coisas), aproveito melhor todos os momentos que estou com elas, pois nunca se sabe o dia de amanhã...