quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pausa

Pausa. Os minutos colaram e parecem horas que demoram a passar. As palavras abandonaram-me em busca de bocas mais sábias e com melhores histórias para contar e a vida repete-se em constantes momentos sempre iguais ao anterior, vazios de conteúdo. De emoção. Nada de novo acontece e até o sol abandonou as minhas janelas para dar lugar à chuva. Pausa. O prédio morre aos poucos, mais lentamente do que os que o habitam e eu vejo a decadência de tudo e de todos sem que nada possa fazer. Tenho medo. Medo que sem forças para lutar, seja contaminada nesta degradação. Pausa. Disseste-me outro dia em conversa, que este não era um sítio sinónimo de felicidade. Eu sei. Mas também sei que já me esqueci do que isso significa. Preciso de ti. Dos outros. Do que deixei para trás e talvez assim, voltar a fazer sentido. Pausa. Para recordar-me dos dias que passamos na praia de água gelada onde só tu tinhas coragem de nadar. Onde eu torrava ao sol ou gastava palavras com os outros. Ou simplesmente, via as ondas que enrolam nas pedras coloridas. Tenho-as ainda guardadas para que nunca me esqueça desses dias mas deixei-as tal como aos outros, numa caixa que ficou para trás. E agora? Estou tão longe daí que me sinto perdida algures no caminho. "Encontra-te!"- dirias-me. Se tu soubesses o quanto me é difícil agora... Foi para isso que aqui vim e agora que dois anos e meio passaram, sinto que apenas me desencontrei. Enchi páginas do meu livro de vida mas se o espremer, só escorre quantidade... E isso nunca foi suficiente para mim. Vi recentemente duas pessoas diferentes, que toda a vida acumularam coisas que lhes diziam algo ou relembravam momentos felizes, partirem desta vida sem elas. Acabaram num contentor de lixo, comidas pelo bicho e pelo pó porque não dizem mais nada a ninguém. E eu não quero isso para mim. Pausa. Preciso de algo que todo o dinheiro que posso receber aqui, nunca puderá comprar. Preciso de mim.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Words are only words

Nunca vou encontrar as palavras certas. Elas fugirão de mim sempre que eu tentar. Nunca vais saber o que prende a minha atenção, o que corre nas minhas veias, o que quase pára o meu coração ou o que acelera a minha respiração. Não vou ser capaz por muito que tente, que queira, que grite ou me revolte. E da mesma maneira, também nunca vou compreender. Por muito que repitas as palavras e as gastes de sentimento. Numa ou outra língua. Farão sentido mas nunca o real e para sempre empatadas, ficarão as batalhas de quem gosta ou odeia mais, de quem sente o quê por quem. E poderíamos ficar nisto dias. Meses. Anos. Parando apenas para abastecer o corpo que se quer forte.
Nunca as entenderemos como nós mesmos as sentimos mas dependeremos sempre delas. Da verdade que não se traduz em quantidade, do peso que não serve na balança linguística. Foram sempre elas que nos juntaram e serão elas também, que nos colarão um ao outro em momentos de amor ou ódio.
Discutimos menos agora. Porque aprendemos novas palavras? Porque nos julgamos conhecer melhor? Ou simplesmente paramos para ouvir, numa busca incessante de compreensão?
Não, não as conheceremos mas o que ouvimos chega para nos alimentar quando estamos sozinhos. No dia em que nos unirmos, falaremos menos e agiremos mais e melhor porque no final, um gesto valerá sempre mais que mil palavras. E talvez aí, nesse mesmo final, te consiga explicar tudo o que sinto e não se traduz em meras palavras.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Special one



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Bis später...

Dizem-me que Hoje salvei uma vida e nem por isso me sinto melhor. Pelo contrario...sinto-me horrivelmente chocada e angustiada. Agora sozinha pergunto-me se salvei mesmo ou apenas prolonguei a espera da morte. 
Hoje cheguei a casa e mais do que nunca quis ter filhos. Não um, nem dois... Três, quatro, um rancho deles... Quis dar vida a quem ainda não nasceu e não propriamente a quem já se esqueceu do que é viver. A quem está cansado demais para estar de olhos abertos à espera do final dos dias. A quem tudo o que melhor podiam dar era o descanso das suas casas. Mas eu tirei-lhe isso. Salvei uma mulher demasiado cansada pelos anos que carrega mas milagrosamente viva, de uma casa que morria primeiro do que ela. Bastou uma chamada para a emergência para lhe abrirem a porta...eles vieram e levaram-na daqui. Longe da sua casa, do lixo que se acumulava em todo o lado mas não a corroía, do pó a reclamar mais de uma década de existência, do bolor que criava netos numa casa vazia de família.  E é triste... Chegar aos noventas e não ter ninguém a quem ligar, ninguém para a ajudar, ver o que vi hoje dentro do seu canto e ficar marcada para o resto da vida, sem poder apagar de mim a imagem de uma cozinha preta do tempo, fechada a chave para não deixar passar bicho a outras divisões que serviam de cemitério a outros tantos mortos numa batalha que só ela, sem que eu entenda como, sobreviveu. 
Dizem-me as mesmas pessoas, que é para o bem dela, que vai ter a dignidade que merece mas na minha cabeça guarda ainda os protestos e choro dela quando a levavam para a ambulância. Memórias de outros tempos mais limpos mas penosos da mesma forma. Ela não vai voltar aqui, um dia destes vem uma equipa fazer a limpeza porque é uma questão de saúde pública e ela ficará os restantes dias que lhe restam, num sítio estranho a ela. Longe dos seus animais de estimação que agora voam noutra direcção e a culpa será sempre minha. 
Um dia destes quando a for visitar, vou pedir-lhe um perdão que ela não vai entender por algo que fiz por não ser capaz de ver alguém assim ao abandono. Vou-lhe pedir perdão por não a ter deixado morrer ali mas estar a matá-la na alma por estar longe daquilo que imundamente a fazia feliz.