segunda-feira, 30 de março de 2015

Horas de verão

Gosto de horas de verão. Não gosto de dormir menos uma mas gosto de serem 19h e ainda ver o sol. 
Gosto de sair de casa de pouca roupa no pêlo apesar de ainda estar frio. Não gosto quando do meio do nada, cai uma chuva em forma de neve que deixa o cabelo a parecer casposo. 
Os dias estão maiores e com eles, a sensação que posso fazer mais e melhor. Não há praia. O rio é bravo e sem marginal. Os parques estão molhados e os amigos, ainda se escondem numa manta de sofá em frente à televisão a verem filmes dobrados.
Cá em casa não há Tv. Escolha própria de quem não quer ficar a comer salsichas fechada em casa a ouvir o George Cloney a falar alemão. 
Os dias estão maiores mas não para fazer algo neste país. Ultimamente o tempo é gasto em formas de sair daqui. Para paragens mais frias mas melhores. Também não tem praia mas o rio é mais convidativo a passeios e banhos de sol. Pegar na bicicleta e correr lugares novos. Verdes. Isentos de poluição sonora ou a dos outros que só enervam. 
Serão os dias de verão iguais aos que ainda me lembro? Serão iguais e sou eu que estou incapaz de me deixar contagiar pelo shot de melanina que nos torna mais felizes ou estão perdidos para sempre? 
Sou eu, que contagiada pelo frio dos alemães, sinto que estou no lugar errado ou estarei realmente no lugar errado à hora certa? 
Gosto de serem 20h e ainda ver réstias do sol. Não gosto de ter de ir para a cama quase a seguir, não haver escuridão e pensar que antigamente a vida parecia bem mais colorida.
Fecho os olhos. Daqui a um ano abrirei, num outro sítio, feliz com o calor eminente de quem tem uma vida completa, mesmo que esteja num lugar gelado.

sábado, 28 de março de 2015

Sexta feira

Há noites assim. Em que adormeço mentalmente na sexta feira à noite e acordo vegetativa no domingo ao final da tarde. No entretanto, não estive aqui. Estive em mil e um lugares ao mesmo tempo, sem tempo para fotografias ou conversas. Nem sequer um café ou uma cerveja. Estive ali e acolá. Não estive em lugar algum. Sonhei que viajava. Que falava. Que reencontrava quem desejo. E acordei no mesmo sítio de onde parti. Nesta cadeira azul resgatada de outro alguém que nem aqueceu o lugar. 
Há noites assim, que no final de uma semana exaustiva em modo " trabalho", chego a casa e não sei desligar o botão. Corta. Cola. Desenha mais. Cria mais. Vive menos. Não sente. Chama-lhe viver, come algo, dorme e recomeça tudo uma e outra vez. Sábado e domingo transformam-se em semana que nunca acaba e sexta chega como um grito de revolta que finjo não escutar. E depois? Depois choro. Ao ver o meu reflexo na fotografia que um outro nos tira e que é mais cruel do que o meu espelho em casa. Não sou eu nessa imagem.  As rugas são minhas mas não as mereço. Os olhos cansados são culpa do trabalho e de muitas noites mal dormidas. O resultado final é algo que não me faz jus. Não me reconheço mais. E no entanto não consigo parar. 
Hoje é o dia. De recomeçar o que sempre fiz ao fim de semana: tudo num doce nada. Hoje é o dia em que sou eu quem grita e revolta. Mas continuo a ser eu, sozinha numa cadeira dada e fria, a lutar contra mim mesma. A recusar o convite dos lápis. A ignorar os 1001 papéis coloridos que me confundem os olhos. A por "pausa" na minha imaginação em prol dos mais pequenos. A ignorar tudo isto e recomeçar a viver. Ponto de interrogação. Nunca fui boa de palavras, sempre fui mais de rabiscos e formas deformadas. Ridículo, consigo desenhar a coisa mais complexa e não consigo moldar a minha vida ao que realmente quero. E eu sei o que desejo. Só não o sei desenhar na realidade. Segunda-feira  chega em modo repentino. Não quero. Quero apenas descolar destas quatro pernas frágeis que unidas formam um móvel e voltar ao lugar que me faz feliz.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Anos de pai

Dia do pai. Assim, como se só o fosse um dia. Consumismo de quem se esquece dele no resto do ano e o tenta comprar com prendas. Para outros, apenas um dia em que colocam as diferenças à parte e são simpáticos sem saber porquê. 
Um pai, como tudo que desejamos na vida, tem de ser perfeito. Um pai que não erra no que diz, não hesita no que faz, tem sempre resposta para os nossos problemas e é mais amigo do que ditador. O meu pai, não é perfeito. Diz muita coisa sábia mas por vezes engana-se, pára quando se devia mover ou agir e não tem problema em dizer que não sabe responder às perguntas mais disparatadas ou muitas vezes aparentemente simples mas de complexidade tremenda. O meu pai será sempre o meu melhor amigo mas nunca ninguém o ouvirá dizer isso por baixo da sua capa autoritária. Nem mesmo agora, reformado da responsabilidade de nos sustentar, deixa de se preocupar mas se lhe perguntarem, dirá sempre que não. O meu pai, é todo ele amor mas manifesta-o à sua maneira, impossível de perceber pelos demais, é frágil como todo o ser humano devia ser e como pessoa que é, também erra... Por isso mesmo, por ele não ser perfeito, digo que tenho o melhor pai do mundo. Porque diferenças à parte, foi ele que me ensinou de colher de pau na mão (e que nunca usou), a fazer contas de matemática, a ler, foi ele que me defendeu quando sentiu que estava ameaçada, e pegou-me no seu colo de lágrima no olho, a dizer sem falar, que serei sempre a sua "juca pequenates". Foi ele, que me ensinou que um homem também chora, quando me levou à plataforma dos comboios antes de vir para aqui. O que ele não sabe (porque saio a ele mesmo e logo nunca direi), é que ele será sempre o meu herói... por ele via as corridas de fórmula 1 aos domingos de manhã sentada nas suas pernas, por ele mudei de clube de futebol por ser o único adepto lá de casa, guardei a primeira neve que vi na vida, no congelador, para que ele pudesse ver quando acordasse...  e no entretanto todo, cresci. Se calhar depressa demais para o que ele queria mas hoje sou o barro que ele moldou. Para o bem e para o mal. Aprendi o que era correcto por tantas vezes que ele me mostrou o que era errado, tenho uma relação com o mundo vista de uma outra perspectiva da dele, por o ter visto errar também e sem querer, sem saber, tornei-me ainda mais igual a ele. E digo isto com orgulho. Porque o meu pai não é perfeito e é assim mesmo que ele se torna mais do que perfeito.
E se hoje choro, é por querer voltar atrás no tempo e saber que faria tudo igual, sem puder realmente voltar. Mas de uma certa forma, sorrio, porque sei que foi um passado bem vivido e será um futuro ainda melhor ao seu lado.
Amo-te papá e sim, serei sempre a tua pequenates. Sem qualquer vergonha.