sábado, 8 de novembro de 2014

Happy bday my sweet J.

Corríamos entre dois caminhos. Hospital-casa. Casa-hospital. Agora fica. Agora vai. Agora demora. Agora é rápido. Agora dói, agora não. Parecíamos perfeitas baratas tontas e já nessa altura nada mais fazia sentido na pressa de te conhecer. Tardavas em vir. Desesperávamos em ansiedade. A tua mãe desesperava. O teu pai ansioso atendia as chamadas. A avó roía já as unhas que não tem. O avô não sabia o que fazer e a tia, eu que nunca tive um bebé que fizesse um pouco parte de mim também, só queria que as horas passassem rápido para te poder ter nos meus braços.
Ouvi a tua mãe gritar os últimos suspiros de dor antes de chegares. Romperam o silêncio da maternidade em horas que todos dormiam, anunciando que a partir daquele dia, nada mais ia ser igual. Fantástico. Chorei como uma menina pequena. Queria saltar aquele balcão e correr na tua direcção. Queria abraçar-te e dizer um monte de palavras que não ias compreender ainda. E tudo se resume naquele momento em que te vi. E por sua vez tudo começa aí também. Seis anos atrás, foi isto que fiz. Esperei junto com os outros, pela tua vinda a este mundo que nem sempre é o mais perfeito mas que contigo por perto, fica mais fácil de se viver. E cresceste tanto e tão rápido. Nunca gostei assim de alguém. És o melhor menino de todos mas sempre te vou defender como se fosses o mais frágil ser porque para mim, és um dos meus maiores tesouros e como diz o poema, "quem ama, cuida". Por isso meu amor, a tia chora hoje. Num misto de alegria de te ver comemorar mais um aninho e tristeza por não poder estar por perto para te dar a prenda que me pedes sempre ao telefone, uma e outra vez sempre na mesma voz embargada: " tia, quando vens cá?". Em breve meu tesouro, em breve. Parabéns meu bom menino.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Ninguém merece

Bona, 04:30, preparar para trabalhar daqui a duas horas, 0 graus! Sim, zero!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A inocência dos sentidos

"... Tia, gosto muito de ti!"- assim começa o que nunca terá fim.
" E a tia adora-te!"- respondo num sorriso que ele nunca poderá ver agora mas certamente conhece e imagina. 
" E eu adoro-te mais também"- num português não muito correcto mas que me aquece a alma. 
" E eu mais que te adoro, eu amo-te meu fofinho"- falo do coração uma saudade que não se mede.
" Tia? Como é amar?"- pergunta fácil de explicação complexa... 
" Amar é gostar e adorar muito, tudo junto, no mesmo saquinho onde te deixo os beijinhos que te animam em tempos de saudades. E tal como os beijinhos, o meu amor por ti também nunca acaba. Há sempre muito e é infinito. Estejas aí ou aqui, juntos ou distantes. 
" Então é muito grande... Quão grande é?"
" É enorme. É ir à lua e voltar mil vezes, vezes infinitas vezes".
" Ahhh então é como eu me sinto por ti"- responde-me como se eu fosse uma bruxa adivinha que descobre a pólvora e dá sentido ao mundo.
" Pronto. Então somos dois. Mesmo longe um do outro, estaremos sempre de mãos dadas pelo menos no nosso saquinho. Queres mais beijinhos da tia para guardares nele?"
" Sim... Já tenho pouquinhos".
Começa o barulho ensurdecedor de beijos telefónicos, pouco pessoais mas carregados de sentimento quando no fim me diz: " Já chega tia, o saquinho já está cheio de amor".
Fossem as coisas da vida tão simples como esta situação, tão puras nas palavras e actos e talvez fossemos todos, um bocadinho melhores pessoas. Obrigada meu pequeno J. Por lembrares a tia "Janana" que perto de ti, sou melhor do que no resto dos dias.

sábado, 1 de novembro de 2014

Farpas mal dadas

Há muita coisa desagradável no ser humano. Mas faz parte de nós. Farpas é uma delas. Farpas, pus, puns, peidos, o nome muda mas o cheiro é sempre o mesmo... Farparmos-nos é um acto humano e devia ter hora e lugar marcado. Na casa de banho. Antes de sair de casa, durante uma pausa no trabalho, longe de tudo e todos. Não num lugar comum como um autocarro ou um metro, não a esta hora madrugadora. Tenham piedade de quem tal como eu acabou de acordar e levar com este cheiro de pequeno almoço mal passado, não faz parte da ementa.
Escrevo este texto no lugar do crime, na esperança que alguém me leia, compreenda e se acuse, em vez destes olhares acusadores como quem insinua: foste tu? E logo de seguida, saia do autocarro, faça  o resto do serviço lá fora, longe de narizes inocentes. Mas não. Continua. Dentro deste espaço grande mas demasiado pequeno para isto, no calor do ar condicionado, as janelas fechadas com o frio que se sente na rua, de cuzinho quente a mandar farpas umas atrás das outras enquanto olha os outros em jeito de desaprovação e tapa o nariz. Não me resta opção a não ser respirar pela boca e sair na minha paragem sob os olhares que me fulminam. E finalmente, o ar puro.

O falso outono

1 de Novembro, Bona, Outono, 20 graus.