sábado, 30 de maio de 2015

Sentimento do dia


Hoje, dei uma volta de chave ao meu passado... passo em frente.

Não perguntes.

Não perguntes como. Quando dei por mim já estava. Acho que faz já muito tempo que o sentia e sempre, de uma forma ou de outra, o neguei. "Longe da vista, longe do coração", longe do coração, longe de confusão...
E adio. Uma e outra vez até que me sinto ser dominada por uma força imensa e invisível que me obriga a ser mais forte e a impedir os meus próprios actos.
Mãos nos bolsos evitam muita coisa. Óculos de sol, olhares indiscretos. E corro. Fujo para não me render. Para não perder a batalha que travo comigo própria.
Digo e repito como um mantra: "Não posso, não posso, não devo"... vezes e vezes repetidas até à exaustão que não fazem efeito. Sei no fundo de mim que posso mas não devo e se não o faço, é simplesmente por medo... E acredita quando digo que gostava de poder. Parar de lutar mas o mundo de outra forma parece-me estranho e assustador.
Só queria que me provassem que estou enganada, que deveria tirar as mãos dos bolsos e abraçar o que sinto. Sem medo, sem incerteza. Sonhos tornados realidade.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Café das cinco

Sento-me nesta esplanada que me leva daqui para fora. Ninguém sabe mas quando me farto da cidade, das pessoas, do país, é aqui que me venho sentar para não ser encontrada. Cantinho num "entre dois mundos". Fora da Alemanha. Fora do resto. Não venho com frequência para que não perca o encanto ao tornar-se hábito. Tivesse eu trazido música e sentir-me-ia como se tomasse café no meio da floresta.
Também não é qualquer pessoa que trago aqui. Os meus lugares preferidos são meus e só depois dos outros que me são especiais. Mas tu estás longe. Longe demais para ver o que eu vejo. Os raios de sol entre os ramos das árvores. O cantar dos pássaros que me embalam o pensamento. A grande árvore no centro das mesas que morre no Inverno e renasce agora.
E tudo fica num tom mágico. Gosto da luz que reflecte na minha pele. Das cores e cheiros. E só eu vejo isto. Tu não estás por perto e os que por aqui passam, vão cegos na sua vida. Não sentem o que eu sinto e nunca, em ocasião alguma, sentam. Melhor para mim... Paz não interrompida que só estaria completa se aqui estivesses... Há tanta coisa que ficou por te dizer e no entanto só seria perfeita neste lugar. Agora aqui sozinha, sem olhar nos teus olhos, não consigo sequer escrever. Tenho medo de corromper a verdade ao escrever, medo de ler essas palavras e as rasgar de seguida. Há coisas que são melhores quando surgem espontâneas.
Hoje, estou farta do mundo e por isso estou aqui... mas não me peças para escrever se o que sinto não se sente só.

domingo, 17 de maio de 2015

O Homem-balão

O dia nasceu feio como muitos outros aqui. A multidão que se atropela em sandálias alemãs e moda ultrapassada, segue em direcção ao incerto. Passam à frente dos meus olhos sem me verem. Sem nada ver. Observo-os desta esplanada como se fossem formigas... todas são clones umas das outras, seguem ao mesmo passo sem diferença de ritmo e cada uma tem a sua função. Ninguém parece falar. Ninguém ri. Nem sequer sorri.
Passa subitamente um rasgo de cor. A formiga revoltada que tenta ser diferente das demais e acaba esmagada pelas outras. Carrega na mão a vida dos outros em metáfora de balão. E subitamente tudo faz sentido. Os outros não passam disso mesmo. Um balão pequeno que vai enchendo com a frustração da rotina, na esperança de um dia ser livre e voar mais alto mas que por descuido, acaba por encher demais e rebentar... antes que o fio se solte da mão. Antes de se darem conta de que é tarde demais.
Já não vejo o Homem do balão. Quero acreditar que voou e é livre desta apatia. Mas não o vejo no céu. Decididamente, hoje é dia de parar de soprar no meu próprio balão.

Yep


Discursos (in)corruptos

Em tempo de combates políticos, andava o meu irmão mais sua prol a viajar pelo interior de Portugal quando numa qualquer cidade viram um palanque... desses em que os senhores corruptos nos fazem mais umas quantas promessas. Mesmo assim, o meu irmão pergunta para os amigos:
 
Mano: Mas o que é isto?
Sobrinho: Oh papá, é um ringue!
Mano: Ah?? Um ringue???
Sobrinho: Sim. Estava ali um cartaz que dizia: "A luta continua", é um ringue!
Mano e amigos partiram-se em mil bocados de riso....
 
P.S- Mal ele sabe na sua ingenuidade de criança o quanto está perto da verdade!

Something

Há algo em mim que me prende aqui. Silencioso e desconhecido. Não são as pessoas, a casa, a cidade ou o país. As gargalhadas que vou dando mesmo que algumas sejam recurso ao choro.
Há algo aqui que me adia a partida como se esperasse algo quando na verdade já nada espero. Não é o tempo instável que me molha a roupa em dias de verão ou me sua no inverno. Não são os amigos ou família. Não são as crianças dos outros que passam mais tempo comigo no trabalho do que em casa. Mas não sei o que é.
Sei apenas que acordo com uma enorme motivação de fazer tudo para encontrar uma saída e vai-se transformando em preguiça durante o dia, arrastando-me para a cama envolta em revolta, na hora de dormir. Sempre adormeço com o medo que amanhã será um dia pior mas raramente o é. Nem pior nem melhor. Apenas igual. E isso deixa-me confusa, será rotina ou um sinal que cismo não ver?

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Friends will always be friends


Diz-me, é de mim ou o mundo mudou? As conversas são outras e nós crescemos? Senta-te nessa cadeira e de copo na mão, diz-me que somos melhores pessoas agora do que alguma vez fomos e os outros que eram presentes, não souberam acompanhar.
Serei eu a única a achar que gosto mais de nós assim do que no passado, que nos conseguimos divertir apesar dos contratempos do dia-a-dia?
Fomos nós que evoluímos ou eu que andava cega?
E no entanto é tudo tão mais difícil... porque apesar de existirmos numa outra dimensão, a partida torna-se mais penosa. O "até à próxima" sem saber em que dia calha, é sempre algo que me causa angústia... e ela nunca me abandona... Mesmo quando sei o dia, sou assolada pelo medo da volta: "e se o avião cai? E eu tenho ainda tanto para dizer a tanta gente...". Irias rir se te dissesse isto mas não se te disser que és um no meio dessa gente, a quem sempre me dou mas nunca me abro ao ponto de por a vergonha de lado, abraçar-te e dizer: Gosto de te ver.
Mas somos nós. Iguais a nós mesmos a calar sentimentos mas diferentes, exactamente porque continuamos iguais ao que sempre fomos apesar de tudo o que aconteceu no entretanto.
E ao menos que saibas que sóbria ou ébria, mais velha ou não, perto ou distante, eu gosto de ti assim um bocadinho para o muito e que definitivamente a minha ida a casa não teria metade da piada sem ti. Por isso venha mais um copo, partilhemos o que nos vai na alma e na cusquice dos outros irei rir e dizer: "Tens razão, na Alemanha, à porta da minha janela não há nada disto!"

domingo, 10 de maio de 2015

Calar

Já não sei amar. Tornei-me uma criatura que reage a estímulos. Bate-me e eu devolvo. Beija-me e eu beijo de volta. Fala alto e eu berro. Fala baixo e eu calo.
Parece absurdo o que digo mas tornou-se mais real do que gostaria.
Parecem anos luz agora, o tempo em que dizia tudo o que me ia na alma. Conquistava ao meu jeito sem medo da derrota que nunca veio e colhendo momentos felizes. Não passam agora de memórias distantes. Essa pessoa que eu era ficou no passado... e eu sou o ponto de interrogação que ninguém questiona mais. Sou quem nunca fui antes. Sou quem fica quieta e calada com medo da derrota no arriscar e perde por não tentar. Sou quem ama e cala para si mesma enquanto outros ganham terreno. Já não conquisto nem sou conquistada. Sei quem quero mas não como ter. Vejo o erro em tudo isto mas não sei como o evitar. E por isso, perco mais um pouco. Mais do que no início, mais ainda quando acabar de escrever. No final não muda nada. Quem quero nunca vai saber que quero. O que eu quero não vou ter coragem de lutar para ter. O erro repetir-se-á e eu calada.

Viagem

Chego. Pouso a mala na sala e ando por ela. Olho os móveis como se a certificar-me que estão no mesmo sítio onde os deixei. Olho com olhos de quem procura mas sabe que não vai encontrar ninguém. Aos pés, uma bola de pelo que me recebe como eu gostava de ser recebida por outro alguém e se senta no meu colo como a amparar-me de mais uma perda.
Respiro este ar pesado e vazio de vozes... em mim, ainda há uma réstia do teu cheiro, não sei se na roupa ou preso em mim mas é sempre assim quando regresso.
Fecho os olhos e penso nestes dias que passaram... Conheço-te mais agora do que antes. Vejo aquilo que os outros não vêm e não compreendem. Vejo o que me apaixona. Se ao menos soubesses o que sinto, o que tenho a dizer... mas o fim chega sempre depressa demais e eu tenho de voltar. Calada no que sinto. Sem contar. Sem ti. E voltar assim, mata-me aos poucos. Mais depressa do que este ar contaminado de ódio e solidão.
As palavras não ditas, sempre guardadas para uma próxima vez sabendo que essa vez será provavelmente igual a todas as outras.
O que sinto hoje, é maior do que eu pensava e talvez mais do que devia ser. É provável que alguém saiba o que calo em mim mas sei que fica na incerteza se eu não o disser alto e bom som ou num sussurro ao ouvido e assim, o fim chega antes sequer de ter começado.
Estou cansada. De estar pronta a falar e as palavras não terem direito a uma ocasião. De esperar pelo momento certo que nunca chega. De não tirar este sentimento que se tornou fardo, de dentro de mim.
E eu não era assim. Nunca tive medo de dizer o que sentia nem muito menos das consequências. Se isto é envelhecer, mata-me já porque não fui feita para calar ou desistir sem tentar.
Abro os olhos. A gata que me consolava desistiu do impossível e descansa na mala que ainda ao bocado era tua. É hora de ir dormir e fazer de conta que sou feliz sem ti. Até à próxima vez que te vir.