terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Road to nowhere


Muda o dia. Mil e uma voltas em torno de mim mesma e páro no mesmo sítio. Sempre. Cansada. Confusa. Desorientada. Nesta cidade de ruas que levam a todo o lado, perto da esquina da rua Lado Nenhum com a avenida Sem Futuro, encontro todo um sem número de almas vazias. Caminham numa enorme multidão sem rumo, sem saberem onde ir, sem nada. Eu sou mais uma... alma penada sem pés e com mãos atadas. Carrego como o poeta, em mim, todos os sonhos do mundo... do meu apenas porque dos outros, já ninguém os conta.
Rodam os minutos no relógio invisível como se fossem horas, num tempo que já não tenho. A vida gira em torno de tudo e de nada. Dos outros. Das pessoas. Do mundo. E eu colo ao chão quando antes nunca lá tocava.
É assim o regresso difícil de quem nunca chegou realmente a partir... e sinceramente, nem a regressar... no entretanto, ficou o que resta de mim separado em bocados pelo mundo que chamo de casa. Os que cá ficaram, eu não reconheço mais. As vidas são as mesmas e pecam pela falta de evolução. O mundo delas também parou mas de uma forma estranha, continuam a respirar... lamentavelmente, apenas isso. Sem revolta. Sem luta. Sem um primeiro passo no meio de outros apenas imaginados mas nunca dados. O que é feito das promessas passadas? Do espírito aventureiro que alimentava as nossas vidas sempre tão rotineiras e sedentas de mudança? Mas nada... eles olham para mim como se de um bicho raro fosse... Não compreendem o que eu digo, tratam-me como se fosse a mesma pessoa que eu própria encarreguei de matar. Não é que não vejam a diferença... eles sabem... só que admiti-lo, obriga-os a ser diferentes... coisa que eles mais temem. E eu expludo mentalmente. Inspiro e faço aquela cara de quem concorda com todos e expiro profundamente... Mais uma pessoa que matei da minha lista e que nem reparou.. uma e outra... caem como tordos e assim acabo sozinha. No mesmo sítio, procurando a rua da Revolução, paralela da travessa da Emigração... "está muito longe ainda"- dizem-me em coro... Não, não estou... estou mais perto do que pensam. Novamente...

domingo, 18 de dezembro de 2016

Pensamento da noite


Mata-me outra vez


Tentamos uma vez, jurando que o mar de rosas nunca se iria perder, que as pétalas nunca fossem cair e prometemos a nós mesmos, nunca deixar de lutar... Perdemos. Prometemos nunca mais cair no mesmo erro e quando baixamos a guarda, estávamos novamente a lutar, nos braços um do outro sem realmente saber porquê. E novamente o fim. Matas-me uma vez, és culpado, matas duas...a culpa é minha..
E mata-me outra vez. Outra vez qualquer que voltemos a prometer não nos deixar cair em tentação e falhemos redondamente na promessa. Sem saber porquê. Muito menos para quê... Mas alguma vez fizemos sentido?
E levantamos muralhas. Mais uma no meio de tantas outras. Não deveria ser ao contrário? Treparmos por elas em busca da conquista? Somos diferentes, construímos-las para ser mais emocionante... não faz sentido mas algures em ti, faz. E eu já não sou nova. Já não tenho o espírito de aventura sem pensar no amanhã. Feliz ou infelizmente. E sem reparar, sou eu que ergo nova muralha. Novo obstáculo...e quando dou por mim, estou perdida algures entre elas, com o pé numa pedra e outra no abismo... o que há do outro lado? Existe realmente algo? Salto e aventuro? Salto e morro? Volto atrás?
Acabo sozinha sempre. Mesmo quando vens ao meu encontro, acabamos sós. Por escolha. Obrigação. Dúvida. Desespero. Medo. E é sempre em ti que penso quando deixo o meu pensamento livre de censura. Livre de cérebro... Livre de opiniões alheias... porque essas, guardo para mim e as dos outros nem ouço.
Sei em que penso e como gostaria que esta história acabasse... mas fica difícil escrever um fim sem ter conhecimento do meio... e eu preciso de ti... de alguém que não fuja quando devia agarrar. Alguém que me desse a mão quando me perco do caminho... Alguém que cole a mão à minha sem me deixar fugir... porque o que eu quero é sempre o mesmo... Passe o tempo que passar. Venha quem vier. Esteja onde estiver. E por isso mesmo, mata-me outra vez.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Woman

Eu tentei ser essa mulher. A que faz o que todos sonham. A que sabe estar e agir no momento certo. A que está atenta aos problemas dos outros. A que cozinha, lava e arruma... tentei ser a mulher que toda a vida a minha avó me ensinou a ser. Penteei o cabelo de forma diferente, colori os lábios e olhos. Vesti-me de senhora que sou mas que não sinto ser. Tentei, ser a mulher que a minha idade pede mas que eu de certa forma, recuso.
Foi tarde demais. Para mim, para nós todos. Falhei a missão redondamente e não sei o que mais me revolta... se o sentir que estou presa a uma imagem do que fui ou se as pessoas não sabem julgar-me sem olhar para a imagem que reflito ao espelho.
A verdade é que cansei-me de verdade. De ser alguém que os outros gostassem que eu fosse. De ser o que é suposto em vez do original. De ser complexa quando eu sou tão simples. E não, nunca me cansarei de ser assim, até eu própria o decidir. Não os outros. Usarei pijamas que não combinam com meias de dormir no inverno. Andarei com o cabelo desgrenhado pela casa se me apetecer sem me importar com o que as paredes pensam. O telemóvel continuará a ser um móvel que esqueço na carteira ou no silêncio, em vez de um acessório. Continuarei a falar alto e a rir-me de boca cheia em gargalhadas sonoras que conquistam pela alegria ou até pelo ridículo. Direi sempre aquilo que penso e não o que os outros querem ouvir. Serei eternamente uma "maria-rapaz" mas sempre verdadeira e humilde. Ou como alguém um dia me disse, uma "maria-rapaz-sexy", seja lá isso o que for.
Continuarei a sentar-me nos mais estranhos sítios a contemplar o que muitos não querem ver ou não são capazes... e não irei mais sentir a necessidade de explicar o que sou e a que espécie rara pertenço.
Eu tentei ser essa mulher. A mulher. E a única coisa que consegui, foi afastar o mundo de mim... não o dos outros mas o meu. E eu, serei sempre essa mulher estranha com uma criança presa em mim... e assim sou feliz.