sábado, 3 de dezembro de 2016

Woman

Eu tentei ser essa mulher. A que faz o que todos sonham. A que sabe estar e agir no momento certo. A que está atenta aos problemas dos outros. A que cozinha, lava e arruma... tentei ser a mulher que toda a vida a minha avó me ensinou a ser. Penteei o cabelo de forma diferente, colori os lábios e olhos. Vesti-me de senhora que sou mas que não sinto ser. Tentei, ser a mulher que a minha idade pede mas que eu de certa forma, recuso.
Foi tarde demais. Para mim, para nós todos. Falhei a missão redondamente e não sei o que mais me revolta... se o sentir que estou presa a uma imagem do que fui ou se as pessoas não sabem julgar-me sem olhar para a imagem que reflito ao espelho.
A verdade é que cansei-me de verdade. De ser alguém que os outros gostassem que eu fosse. De ser o que é suposto em vez do original. De ser complexa quando eu sou tão simples. E não, nunca me cansarei de ser assim, até eu própria o decidir. Não os outros. Usarei pijamas que não combinam com meias de dormir no inverno. Andarei com o cabelo desgrenhado pela casa se me apetecer sem me importar com o que as paredes pensam. O telemóvel continuará a ser um móvel que esqueço na carteira ou no silêncio, em vez de um acessório. Continuarei a falar alto e a rir-me de boca cheia em gargalhadas sonoras que conquistam pela alegria ou até pelo ridículo. Direi sempre aquilo que penso e não o que os outros querem ouvir. Serei eternamente uma "maria-rapaz" mas sempre verdadeira e humilde. Ou como alguém um dia me disse, uma "maria-rapaz-sexy", seja lá isso o que for.
Continuarei a sentar-me nos mais estranhos sítios a contemplar o que muitos não querem ver ou não são capazes... e não irei mais sentir a necessidade de explicar o que sou e a que espécie rara pertenço.
Eu tentei ser essa mulher. A mulher. E a única coisa que consegui, foi afastar o mundo de mim... não o dos outros mas o meu. E eu, serei sempre essa mulher estranha com uma criança presa em mim... e assim sou feliz.

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