domingo, 21 de novembro de 2010

Baloiçando

Ela passa naquela calçada. Vezes e vezes sem conta durante um mês... dois... faz 4 agora. Calca as mesmas pedras todos os dias, cada vez com mais insegurança, escorregando por entre os paralelos, com medo que o chão debaixo dos pés, lhe escape a qualquer momento, agarrando-se a uma fé invisível que nem ela sabe que tem. Passam os carros por ela como monstros que a vão devorar a qualquer segundo de distracção, corre desajeitada fugindo de um perigo que nunca esteve lá mas ela não sabe disso... Chega ao refúgio estranhamente conhecido, como se lá estivesse livre de quem a persegue... durante algumas horas ela retoma as forças que lhe roeram o estômago nessa manhã... sente bichos que não existem roerem-lhe as entranhas, subindo à garganta e ficando por lá só para que ela não se esqueça que vão voltar não tarda nada...
Olha o relógio... as horas passam depressa... agonizantes badaladas dos ponteiros que parecem voar, empurrando-a de volta ao mundo que a assusta.. É hora de voltar.. sai falsamente confiante, enche o peito de ar e tenta esquecer que se dirige para a toca do lobo... sente-o no ar... por entre as árvores desnudadas pelo Outono... está na hora de enfrentar a besta...
É forte.. mas ela luta... fraca no seu ser, recai... sente que o corpo vai falhar, que quem a rodeia afinal é uma alcateia... o coração dispara em sinal de alerta, o braço adormece, os bichos voltam da garganta e sobem até ao cérebro... E agora? Precisa sair, precisa do ar fresco da liberdade, do alguém que a espera e lhe diz: "Respira fundo! Respira fundo! Está tudo na tua cabeça!Não existem monstros, não existe toca, não existe perigo nem sequer devia existir o medo!"... Resta saber, até quando vai durar isto?