segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Unfriendly dinner

Sentados à mesa. Convidados à última da hora para "marcar o ponto" mensal. Aparecem sorridentes nos seus sorrisos comprados ao dentista e marcas caras compradas em outlet, ainda com o preço no bolso de um casaco, que de tão bonito, ninguém o comprou... por isso mesmo passou de centenas para apenas 1,99€. Sorrio. E é um sorriso sincero, honesto... talvez o único desta noite.
Tecem-se elogios: ao jantar, à amizade, à comida, a tanta coisa que começa a cheirar a falso. E não posso deixar de reparar que no meio de tanta cordialidade, falta tempo e espaço para serem quem são na realidade. São apenas duas pessoa que se conhecem há 25 anos, mas não sabem nada um do outro. Discutem futilidades e riem de assuntos quando deviam chorar. Fito-as. Deixo-as fingir. Mentir até. Serem o pior que conseguem ser. E elas continuam... uma deixa metade da comida no prato com vergonha de parecer faminta, o outro come como se não houvesse amanhã com vergonha de pedir um tuperware para levar o resto para casa. E ninguém levaria a mal, o que se leva a mal é a hipocrisia... o cinismo.. a mentira de toda aquela situação.
A filha mais velha, de férias em algum sítio, habituada a receber maquilhagem, roupa e dinheiro, desde que se lembra da sua existência, pediu à mãe a única coisa que o dinheiro não pode comprar e como tal, a mãe descobriu que partir uma unha, afinal de contas não é o maior problema da sua vida, é sim, escrever uma carta à sua própria filha! E não deixa de ser triste, uma mãe que nunca teve a proximidade da filha, ao ponto de não saber o que dizer ou como o fazer.
Chega o fim, o motivo do adeus é mesmo esse, ter de escrever uma carta sem falta mas não sem antes pedir a receita do jantar, que na realidade não vai cozinhar. E não, não estou a ser má, apenas realista... não se pode esperar um grande cozinhado a quem confunde aparas de cão com carne do lombo. É o fim para eles e para mim, chegou finalmente o meu momento de liberdade.

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