quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Capuchinho preto

Voltei a casa e tinha seis anos de novo. O cheiro tão conhecido deixou-me iludida com a realidade. Dei por mim novamente a chamá-la... Sei que quase ninguém gosta de entrar num prédio a cheirar a comida... eu gosto... era o que mais adorava quando o sentia... significava que estava perto da cozinha da minha  avó... estava perto de um dos meus sítios preferidos. Estava perto daqueles que foram também, os meus pais..
Hoje, constipadíssima, sem cheiro nem sabor, ia a entrar em casa e senti-o... Levei uma chapada psicológica e fui atirada de volta no tempo. Não foi o nariz que sentiu, foi mais a recordação... o intenso cheiro de comida de uma vizinha que cozinha com o mesmo cheiro da minha infância. Rodei a chave, entrei em casa como em tantas vezes no passado depois de um dia de escola e esquecida, gritei: Cheguei!!! Mas ninguém me respondeu. Ninguém veio ao meu encontro para me beijar e abraçar. Ninguém me devolveu o sorriso. E eu calei. Calei a voz e calei o choro momentâneo preso no olhar.
Costumava pensar que daria tudo para sentir esse cheiro uma vez mais porque significaria que veria os meus avós de novo... era mentira... senti e não os vi. Talvez a constipação me tenha distorcido o cheiro... talvez não tenha sido exactamente igual... ou talvez, seja eu que desejo imensamente abraçá-los de novo e por isso acredito em coisas impossíveis...
Seja como for, hoje, como em tantos outros dias, senti uma saudade enorme.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ser feliz é também ter tido um passado feliz, sobretudo uma infância feliz!
Ser adulto e feliz é também saber viver com a saudade, buscar nela força e inspiração para o hoje, de modo a que amanhã possamos continuar a ter saudade. Afinal só temos saudade do que é bom.

Strawie disse...

Obrigada =) Estava a precisar dessas palavras... eu sempre soube mas por vezes preciso que me recordem. E sim, a infância foi muito feliz... e não há muita gente que possa dizer o mesmo..