Acreditarias se te dissesse que sei mais do que corre em ti do que sabes? Se te dissesse que tudo na nossa vida acontece primeiro aos ouvidos dos outros do que em nós mesmos? Que com isso ganhamos defeitos e virtudes que não são nossos? Odeiam-nos sem sabermos porquê, amam-nos pelo que não somos e contam histórias que não retratam a nossa vida ou a nós mesmos.
Acreditarias se te dissesse que tudo isso para mim é pedaço de um bolo estragado que me forçam a comer? Se te dissesse que preferia não comer. Não ouvir. Não saber? Mas os ventos são tão fortes e ruidosos que só tu não os ouves. Todos sabem. Todos ouvem. Todos comem. Com um prazer distorcido e retorcido em mil e uma migalhas bolorentas que contaminam a nossa vida de parasitas invisíveis que nos matam aos poucos, numa morte lenta que só sentimos quando já não há mais nada a dizer.
E eu calo-me é verdade. Não consinto. Apenas não sou mais do que os outros. Mais do que tu mesmo. Nos pedaços de moral que me restam, não sou ninguém significante. Eu esforço-me por me lembrar de um momento que não tenha errado. Algo que me perdoe a modéstia e me deixe falar. Contar-te que o mundo está cheio de gente má que te idolatra a um ponto obsessivo... Mas quem sou eu? Eu, mal me compreendo a mim. Quem sou eu para julgar os outros? Quem sou eu para os calar desse vício do qual parecem alimentar-se numa constante matança de sede de vigança sem razão? Quem sou eu para dizer que erraste? Quando muitas vezes o erro... Não foi nosso... Eu já tinha dito noutras linhas, noutro texto, noutro discurso em pensamento, numa conversa que nunca aconteceu.. Sou e serei sempre aquela que tudo sabe e nada pode contar.