sábado, 20 de fevereiro de 2016

À minha...

Não resisti. Aquela garrafa guardada para uma ocasião especial, esquecida no armário em busca de momentos mais felizes, iria estragar, azedar... Abri. Inspiro o aroma que não se explica do vinho alemão. Já bebi coisas piores. Já bebi melhores.
Hoje não é um momento especial. Se contarmos que ninguém faz anos, a casa está vazia e não é dia de festa nem sequer de sair.
Não bebo para esquecer. Para o fazer tenho de beber misturas estranhas que nunca faria sóbria. E este vinho, não se mistura. Bebo para não lembrar. Para deixar que o meu cérebro relaxe e alivie. Não me julgues. É só um copo redondo que sobrou no amontoado de caixas por falta de espaço. É só uma garrafa que iria estragar. Juntei o útil ao agradável. No final, a garrafa vai ao lixo e o copo cai ao chão. Porque entre tudo o que me rodeia, pelo menos este copo é meu. Comprei-o quando era ingénua e acreditava que iam existir muitos dias felizes nesta casa. Existiram mas foram regados a outras bebidas. A outros copos. Este momento especial, que nunca soube dizer qual era, nunca existiu. E esta casa que nunca foi minha, nunca me pareceu mais estranha como agora. Por isso bebo este copo. Brindo a dias mais felizes. Porque mesmo que esta porta se tenha fechado, outras se abrem... ou pelo menos uma janela. E isso, é um momento especial.

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