sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Invisível

 
Se há coisas que eu odeio, esta é uma delas. Depois de tudo o que fomos. Depois de todos os planos do que seríamos e consequente quebra das promessas. Depois do nada que podia ter sido muito... o reencontro. Não um qualquer. Mas como estranhos. Como se eu fosse invisível.
Talvez o seja. Talvez eu viva num mundo onde tu já não vives e por isso mesmo, todos me veem menos tu. Sei que existo mas não mais em ti.
E não me compreendas mal... eu até vivia bem. O dia era feliz... repleto de outro reencontro. Este, bem visível e animado com alguém que mesmo à distância, soube cuidar. Sentadas numa esplanada da baixa da cidade a saborear o resto do verão que já não é, envoltas em conversas antigas que tinham sido adiadas, até que vejo uma cerveja ambulante mesmo à minha frente, numas mãos que conheço bem. Não podia ser. Não queria que fosse. Nem algo parecido. Não precisava sequer da lembrança quanto mais da realidade. Ali estavas tu à minha frente. Procurei-te tantas vezes sem sucesso e quando desisti ali estavas... Cabelo cortado, num blazer escuro, num estilo aprumado de quem toma uma cerveja no final de um dia de trabalho e que agora espera alguém... E eu tentei chamar-te. Tentei soltar o grito de revolta que à muito se prende na garganta. Mas não fui capaz. E tu continuavas... olhavas para o telefone do qual já nem tenho o número... como se a vida dependesse dele. Será que me viste? Será que sentiste a minha presença? Será que ainda a sentes? E porque tenho eu de ficar a bailar nas memórias quando já quase me esquecia de ti?
Virei o olhar quando estavas a acender o cigarro e quando olhei de volta perdi-te. Recuperei a conversa no mesmo ponto em que a deixei e distraída o meu olhar apanhou-te novamente. Caminhavas lentamente. Com todas as certezas e incertezas da vida, sereno... e nem te apercebeste de mim a passar por ti. Sou invisível e serei... não te falei, não me viste, nem pensaste, assim como eu não pensei na possibilidade de te reencontrar agora que regressei... Do país que tu amas e que me tornou fria. Talvez seja por isso que me esqueceste assim... porque em ti há mais desse país do que humano. Há mais frio que calor. Há mais palavras do que gestos. Há mais cobardia do que coragem.
E voltei a perder-te... não te encontrei mais. Apenas nas lembranças que insistem em não me abandonar... Nunca vou perceber o que levou uma pessoa a abandonar quem dizia ser a "melhor amiga" da mesma forma que não te vou dar a possibilidade de tentares explicar... se me vires novamente, vira a esquina antes que eu te veja. Não vou levar a mal. Vou apenas agradecer. Até nunca C.

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