quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Hoje.

Desde pequena, sempre tive este sonho. O de ser humana o suficiente para que pudesse ajudar os outros. Anos passados, nunca duvidei desta vontade, por muito que nunca esteja realmente acabada ou cumprida. Tenho alturas que sou espectacular, outras que sou a pior pessoa do mundo. O problema começa aqui, quando sou a pior pessoa na vida de muita gente exactamente por ser a mais humana. E então? Quem me prepara para isto? Quem me ensina a ser horrível e transformar-me numa pessoa normal? Quem me explica como fingir ser quem não sou? Quem ampara as minhas quedas em voos que julgo ser os correctos?
Não interessa nada aos outros. Interessa-lhes sim as suas próprias vidas, claro, não critico, mesmo que acabem por abalar uma outra vida que não lhes pertence.
Quando era pequena, só queria isto... ser valorizada pela conquista dos meus sonhos.. Hoje, esse dia chegou. Não estava minimamente preparada. Depois de uma semana de desaventuras, falta de apetite, nervos à flor da pele, noites de insónia e muitas lágrimas à mistura, não estava preparada para uma sessão de elogios. Sempre imaginei esse dia como um dia de sol. Eu bem disposta, cara fresca e sorriso estampado no rosto, era elogiada e receberia uma medalha amarela de plástico. Foi tudo ao contrário. Lá fora a chuva que me distraía, os trovões que abafavam o que me diziam. Na cara mal dormida, a maquilhagem de guerra escondia os olhos que ainda ontem choravam sem parar.
"És a mulher mais forte que conheço!"... soubessem eles o quanto frágil sou... "És a pessoa que tem mais qualificações e que melhor as usa aqui dentro"... uso... uso para os outros mas nunca para mim... "Chegaste aqui sozinha e venceste no mundo, não imagino o quanto difícil deve ter sido nem o que sofres todos os dias mas imagino que não seja nada fácil e mesmo assim estás sempre pronta a ajudar"... Não, não imagina, pena que não me saiba ajudar a mim própria.
Dizem isto e mais um milhão de coisas que não tiveram qualquer efeito em mim. Consegui dizer um obrigada e sair dali o mais depressa possível para esconder a lágrima... nem esta foi a esperada... a esperada seria de vergonha e contentamento, a escondida foi de tristeza profunda... Amanhã, é mais um dia. Outro no seguimento de outros. Hoje, apenas descobri que afinal, queria tanto ajudar os outros que me esqueci de ajudar a pessoa que mais necessitava. Eu. Por isso, guardo a medalha e mudo o discurso. Modo de defesa: On. Por isso, pergunta as vezes que quiseres e eu responderei sempre: I'm fine. Mesmo que tudo esteja como agora. Uma valente merda.
 
 

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